É difícil escrever uma palavra que seja sem que, com essa palavra, não se transmita a ideia errada de que essa palavra é intencionalmente de oposição. É que depois destes anos da "política externa" de Luís Amado que cada vez mais estava a assemelhar-se a uma fábrica de moagem de alfarroba, esperava-se algum brilho, um rasgo de alma, discurso mais elevado do que aquele que se pode destinar a crianças da primária, a parolos de feira ou a mulherzinhas do mercado de peixe.
Certamente que o ministro pensará que diz grande coisa com o trivial que vai dizendo e não se duvida que aqueles que o cercam, por dever de ofício, vão dando garantias de que "a coisa está controlada" seja pela omissão seja pela citação.
O encerramento de embaixadas, por exemplo. Explica o ministro que a decisão de encerrar será caso a caso. Mas poderia ser de outra maneira? Nunca se viu o encerramento de embaixadas a não ser caso a caso e conforme o caso. Só um tolo é que imaginará que o ministro irá encerrar todas as embaixadas que, por hipótese, estejam junto de pequenas potências por serem pequenas, ou, por outro critério, todas as que funcionem junto de estados confessionais e em todos por serem confessionais, ou todas as que estejam junto de estados que não importem sapatos ou não exportem camarão para o Pingo Doce, ou ainda, nunca se sabe, todas as que não possuam jardim espaçoso, gaiola com passarinhos e instalações para acomodar o ministro em viagem... Disse o ministro que o encerramento vai ser caso a caso, desdobrando-se depois mais ou menos naquele estilo com que no básico se explica às criancinhas a diferença entre a adição e subtração. O que disse não foi nada.
Ora o ministro, passados estes meses de MNE, já teve tempo para poder enunciar o problema - não o enunciou. E só depois de enunciar, só depois, é que deveria apresentar a solução mas bem explicada, pois o MNE ainda não é uma parceria público-privada. Se ainda não é capaz de enunciar o problema, é uma coisa; se não tem solução, é outra. Admita-se e compreenda-se isso tudo, mas o que se entende é que um decisor de alto nível possa brincar com as palavras da forma que lhe apetece, mesmo que os próximos o iludam em quanto está a beneficar das omissões e citações das páginas da província, pois isto não passa de província, tal como a troika já decretou.
1 comentário:
Coloca-se a questão de saber se é mais inteligente encerrar caso a caso, ou definir, antes, quais e onde estão as prioridades. Parece que a última fazia mais sentido.
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