22 outubro 2011

O cabelo. Almoços e esculturas

Meu caro,

Olhe, ia dizer-lhe que estou mais para lá do que para cá, mas depois percebi que, sobre mim, o mais correcto é dizer que estou mais para cá do que para aí. Ainda estou a habituar-me a esta comunicação complexa com recurso às novas tecnologias. Enfim... o importante é mesmo isso. Estou ofendido. Você sabia que o meu sucessor Sacadura Cabral tem tido reuniões e almoços de trabalho com os antecessores? Bem informado como anda sempre, acredito que sim. Já eu, tive de saber desses encontros pela imprensa. E, meu caro, considero isso uma falta de respeito. Então já foram chamados ao Palácio das Necessidades o Manuel de Mendonça, o Victor Martins, o Filipe Marques e até o Pinto Freitas? E o Marco António nem vê-lo? É uma injúria. Tanto mais porque o meu sucessor Sacadura Cabral teria umas coisas a aprender com a política externa do meu tempo. Nunca como naqueles anos tivemos relações tão intensas com África, América Latina e até com as arábias que parece ser agora a menina dos olhos dele. A chamada do Filipe Marques eu até percebo. Para além da passagem dos dossiers que se avolumaram naquela secretária durante meses e meses, o meu sucessor Sacadura Cabral podia aproveitar para lhe encomendar um busto seu para colocar no Largo das Necessidades ou então para dar um jeito no escalpe antes dos périplos em que tem embarcado. É que há um mérito que ninguém tira ao meu sucessor Filipe Marques: foi o único ministro dos Negócios Estrangeiros com capacidade para aparar o próprio cabelo.

Ministro Plenipotenciário Marco António

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