27 março 2012

Pois bem. Jovens exemplares

Pois bem, começa assim:

Os jovens "fazedores" da política externa portuguesa - digo "fazedores", e não "executantes", porque são eles que realmente montam e desmontam o puzzle das posições portuguesas no palco internacional e dão as dicas que os mais altos responsáveis do País deverão explorar nas suas intervenções nesse mesmo palco - estão cheios de cultura livresca (adquirida à pressa nos seus curtos anos de aprendizagem e experiência profissional), de força anímica e de ideais. A sua esplendorosa força anímica faz-me lembrar aqueles jovens enamorados que ejaculam precocemente, quando se aproximam de uma mulher.

Quanto aos ideais, não creiam que se aplicam a personagens que significam modernos exemplares "quixotescos" da lusitanidade; trata-se, isso sim e sobretudo, de personagens imbuídos de ideais pessoais de uma rápida progressão na carreira diplomática, agora que lhes foi dada a oportunidade de singrarem em todos os escalões e serviços do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Uma oportunidade que o poder político ainda há pouco se vangloriava de ter facultado mediante a redução da média etária dos novos cargos dirigentes do MNE, a níveis interno e externo, julgando, errada e precipitadamente, que a cultura livresca, a força anímica desses jovens exemplares e os seus ideais, substituem a sabedoria, a experiência, o bom senso e o sentido de Estado, que só os anos de maturidade, de estudo e reflexão, e a diversidade de experiências são capazes de proporcionar.

Esta situação é tanto mais grave, quanto é grave a situação do País e do povo português, expostos ambos aos brotes de entusiasmo, de irreflexão e fulgores da juventude dos novos "fazedores" da política externa portuguesa.

Temos o poder político a dar prioridade à criação de condições para sanar a economia do País e abrir caminho para iniciarmos uma nova senda de crescimento, e, nesse contexto, a delinear estratégias de atuação no cenário internacional. Mas temos na retaguarda desse poder político um outro poder, bem mais atuante, que, na penumbra dos seus gabinetes e à sombra dos seus protetores pessoais, vão traçando diretrizes, as mais das vezes discutíveis e inconsistentes com relação aos objetivos a perseguir e às posições a adotar. São vários os exemplos e muitos os que os conhecem.

Portugal sempre se destacou por ter uma diplomacia conhecedora, hábil e eficaz, que lhe deu prestígio ao longo da História.

Lamentavelmente, não creio que estejamos a viver uma época áurea nesse domínio, já que se estão a queimar etapas a um ritmo e velocidade incompatíveis com o bom saber e o bem fazer.

B. V. C.
Até breve

2 comentários:

Anónimo disse...

Um excelente Post! Muito oportuno, muito a propósito! Quando o País está a viver uma situação ímpar de dificuldades, empurra-se a Experiência para casa, não se lhe dá trabalho, deixa se a consultar, troca-se por juventude menos preparada, mas mais subserviente, etc. Nunca se trepou tão rápido, e com menos experiência, como nos últimos anos!Um MNE a reflectir a actual Sociedade, a espelhar o País que temos. Ora não me parece que "arquivando" e ignorando os mais velhos e experientes, com a tal dose de bom senso que o tempo lhes ensinou, que se vá progredir e melhorar o que está.
Reitero: excelente Post!
O Sexagenário

joãoeduardoseverino disse...

"fazedores"?
Serão como as felizardas que percorrem embaixadas, gabinetes de ministros e associações de turismo?