17 junho 2012

Lá vai comitiva

O Primeiro-Ministro o ministro dos Negócios Estrangeiros, na quarta e quinta-feira no Rio de Janeiro, vão participar e representar Portugal na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), acontecimento de relevância na política internacional. Aproveitando essa deslocação, Pedro Passos Coelho vai antes ao Peru e depois à Colômbia, o que já dá um ar de ir à América Latina que é muito mais vasta. O Peru é já para amanhã e terça, e a Colômbia fica para sexta e sábado. De relevância, em Lima é recebido pela Presidente da República, Ollanta Humala, e em Bogotá tem audiência agendada com o Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, com assinatura de acordos, quais não se sabe a rigor porque o site oficial do governo é omisso. Além de programas festivos (fados com Carminho em Lima, a incontornável visita ao Real Gabinete Português de Leitura e pequeno-almoço com o governador do Rio de Janeiro e, em Bogotá, inauguração de um hotel do grupo Pestana, apresentação de um livro sobre Fernando Pessoa e visitas ao Museu do Ouro e ao Museu Botero, há também a agenda justificativa para a adornar a invocada diplomacia económica por vezes invocada em vão como contra o Segundo Mandamento se invoca Deus: encontro empresarial em Lima, jantar com empresários no Rio e um seminário também empresarial em Bogotá. Agenda justificativa porque lá vai comitiva empresarial, sendo 60 os da comitiva, como algumas cachas jornalísticas revelaram e com tais parangonas secundarizando o principal motivo da deslocação, que é político e de alta política - a Conferência do Rio, onde não se sabe o que, também a rigor, Portugal vai defender, preconizar, propor ou aceitar, se é que tem ou pode ter política externa para isso.

Curioso é que, mais uma vez, se apresenta a ida de uma comitiva empresarial como coisa de exceção, quando sabem os portugueses que há décadas e décadas que atrás de presidentes da República, dos vários primeiros-ministros e ministros dos Estrangeiros, o que nunca faltaram foram comitivas empresariais. Possivelmente esta comitiva empresarial que vai à "América Latina" é diferente das dezenas de comitivas que ao longo dos anos voaram para tudo o que é sítio, muitas vezes pagando do próprio bolso. Acredita-se que sim pois, a aceitar-se com boa a perceção de Paulo Portas, a diplomacia portuguesa deste século XXI é já a continuação da economia e não tanto turismo de negócios eventuais ou boleia de prestígio na cauda protocolar. Os objetivos de tais comitivas foram, na verdade, sempre vagamente traçados, não variando de comitiva para comitiva: procurar novas oportunidades de negócios, sondar mercados e estabelecer contactos. Por regra, nestas décadas de comitivas, o entusiasmo foi sempre grande enquanto o clima ou o calor protocolar durou, mas também rapidamente na maior parte dos casos se desvaneceu. Talvez uma dúzia que dúzia e meia já será muito, não tenha conseguido mais resultados das comitivas que umas fotografias que os netos já não conseguem identificar e uns cartões de visita que, na parte útil, engrossaram mais as importações que as exportações.

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