25 junho 2012

Sem golpe de asa

O ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, teria certamente muito a dizer como ministro da Economia no Fórum Económico Portugal-Iraque, muito mesmo, à exceção de generalidades, assim como que palavras atiradas ao ar, e de banalidades, aquilo que desde há muito já é hábito ouvir de ministros dos vários governos, tenham tais ministros tido a tutela do comércio externo ou não como passou a ser o caso. Do que veio a lume sobre o que Álvaro Santos Pereira afirmou durante iniciativa organizada pela Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa, assim de útil, apenas uma constatação conhecida por quem segue o comércio externo, seja por interesse ou curiosidade, da académica à vulgar. Disse o ministro que «os fluxos de comércio e investimento nos últimos anos entre Portugal e o Iraque estão bastante abaixo do que se pretende” e que “na verdade, são bastante insignificantes”. E depois, num corolário que se ouve há anos e anos mas que se repete para agradar à plateia, o estafado desejo de que a iniciativa daquela câmara de comércio provoque «um novo capítulo» entre as empresas e os dois países. Nenhuma novidade nisto, pois há anos e anos que se desejam novos capítulos, não se saindo da cepa torta. O ministro não disse nada sobre o que estará disposto a fazer, ele, o governo ou a tutela do comércio externo e investimentos, para que se saia do marasmo. Nada de concreto, designadamente quanto ao papel facilitador que o Estado deve desempenhar relativamente às empresas, cada uma confiada no seu livre arbítrio, algumas em apostas de sorte, outras em negócios de ocasião efémeros mal se alterem as ocasiões como o de abastecimento de tropas.

E antes desse nada, uma série de generalidades. Que “Portugal não representa meramente um mercado de cerca de 10 milhões de consumidores”, e que “tem um conjunto de relações privilegiadas a nível cultural, linguístico, económico e empresarial com várias regiões do globo, passando pelos países de expressão oficial portuguesa, pelo norte de África e o continente americano, pelo que nos devemos posicionar como eixo geoestratégico entre o Iraque e estes espaços regionais”. O ministro diz isto como se não houvesse mais países que têm tudo isso e muito mais do que isso em todas as regiões do mundo que citou e onde só faltou a Antártida, e que têm sobretudo empresas que dos respetivos governos têm, desde há muito, tudo menos a burocracia que por cá há a mais, e um fisco cuja orientação não é seguramente a da guilhotina que por lhe dá ar de carrasco.

E continuando no vago, Álvaro Santos Pereira opinou tal como todos os seus antecessores opinaram que há “variadíssimas oportunidades de negócio, parcerias e cooperação" entre Portugal e o Iraque, mas há também um “certo desconhecimento” das mesmas oportunidades. Porque é que não foi direto assunto e não disse que há um total desconhecimento, apontando as causas, enunciando os remédios? Não, ficou-se por aquelas variadíssimas, por aquele certo desconhecimento…

Ainda disse também o ministro que “a definição de novos mercados é muito importante”, o que não é novidade sequer para os esquimós mas que, pensará o ministro reclamando aplausos, será novidade para portugueses e iraquianos. E rematou com uma coisa que certamente só agora o ministro descobriu – que Portugal está “num processo de se abrir ao mundo”… Só agora? Antes esteve Portugal num processo de se fechar ao mundo?

2 comentários:

Anónimo disse...

O ministro Álvaro Pereira é uma boa cabeça, com conhecimentos, mas desfasado do país. Além de não saber comunicar nem pelos vistos se esforçar par isso, fala e actua como o país fosse um arrabalde de Vancouver e tudo o mais um Canadá. Ora não é! Do mal o menos, ainda bem que o AICEP não lhe ficou nas mãos. Os erros com o ministro Portas são evidentes Mas com o da Economia o AICEP já estaria numa agência de viagens para infantes, embora para lá caminhe. Se não houver cuidado.

Brito da Emenda

patricio branco disse...

alguem já folheou o livro de ASP contando à sua maneira o livro da genesis da biblia? vale a pena, muito talvez se descobrirá por lá sobre as suas teorias.
eu não li, mas tenho por aqui um exemplar e espero a ocasião de lho dar a assinar.
palavras sábias e nada banais nem vazias, nem são chavões etc as ditas no forum economico portugal iraque. uma profundidade e originalidade rara de se ver ouvir e ler.