11 julho 2012

Água em vinho? Ninguém acredita e esse produto não é aceitável

Respondendo a VEXA: a orientação definida pelo atual governo, no seu quadro de coligagção, foi a de desenvolver uma "fortíssima diplomacia económica". Isso foi dito desde a primeira hora de acerto de agulhas, consta no programa, foi dito e repetido pelos responsáveis diretos pela política externa. Não se põe em causa a legitimidade da orientação e, até certo ponto, da sua justeza. Onde começam as dúvidas e porque se avolumam as preocupações? Precisamente quando se deixa sugerida no terreno a transformação do Ministério dos Negócios Estrangeiros em mero Ministério do Comércio Externo. A decapitação da dimensão política da ação e da atividade diplomática, a transubstanciação das embaixadas em centros de negócios como milagre equivalente ao de transformar água em vinho, os refrões usados quase obsessivamente na oratória do ministro, o sumo espremido das viagens oficiais (de relâmpago ou de cruzada), a omissão ostensiva de dossiers político-diplomáticos e de política internacional alguns de crucial importância para a afirmação de Portugal, a fuga da Europa, dos centros de co-decisão da Europa e dos centros de preparo das decisões da Europa, o escape a tomadas de posição relativamente a assuntos que todos os países democráticos não podem pela sua natureza enjeitar porque não se pode fazer acordo ao mesmo tempo com Deus e com o diabo, por aí fora, por aí adiante havendo mais, tudo isso naturalmente que se compreende e até é tático que assim seja num Ministério do Comércio Externo. Mas num Ministério dos Negócios Estrangeiros, não, ainda que, em última análise, se pense que essa é uma deriva sagaz para garantir a sobrevivência política interna dos atores numa coligação a fim de continuarem disponíveis para uma outra qualquer coligação seguinte, na previsão de cenários.

A alguns comentários que de boa fonte nos chegaram, por ora respondemos assim.

4 comentários:

Anónimo disse...

Boa malha!
L.M.

Anónimo disse...

Excelente! Boa malha, como diz anónimo L.M

Anónimo disse...

Exactamente! Haja quem diga a Paulo Portas que ponha travões nesta sua corrida a descer, embalado e fiado nos encómios das antenas e ofícios correlativos. O problema será nos cruzamentos...
Velho diplomata

José Martins disse...

Já várias vezes, antes, bati no mesmo assunto e jamais deixarei de o fazer....
.
São recordações amargas de um passado e de quando eu afincadamente procurava que o comércio português tivesse uma identidade na Tailândia e Sudeste Asiático.
.
Tudo correu sobre rodas durante dois anos e meio (1997/1999), e no consulado do embaixador Mesquita de Brito (1995/1999) em que eu tinha a liberdade de me movimentar e ligar-me ao empresariado português e a incitá-lo para vir à Tailândia.
.
Trabalhou-se bem e Portugal esteve representados, em várias feiras, em Banguecoque. Mas a desgraça e a queda acontece de quando em Abril de 1999 o embaixador Tadeu Soares é colocado em Banguecoque e o embaixador Martins da Cruz, ministro dos Estrangeiros do Governo de Durão Barroso vem exercer o cargo de ministro dos Estrangeiros.
.
Tadeu Soares não estava vocacionado para o comércio externo e mais para os recortes dos jornais diários, cozinhados, mandando montes e mais montes de telegramas para a CIFRA para fazer de conta, nas Necessidades que produzia serviço. Martins da Cruz criou a Diplomacia Económica e mais um “bonitinho” dentro das Necessidades.
.
Teria, imenso, aqui para me alongar mas fico por aqui: “Pouco depois de Tadeu Soares chegar a Banguecoque o director de exportação da SONAE,
António Lima (hoje reformado como eu) desejou conhecer e apresentar cumprimentos a Tadeu Soares. O sr. António Lima esperou no gabinete do ICEP, sob o tecto da chancelaria da Embaixada.
.
Chegou Tadeu Soares e apresentei-lhe o sr. Lima e asperamente, Tadeu Soares diz ao representante da Sonae: “então o que é que o sr. Quer?”
.
Trocadas poucas palavras Tadeu Soares deixou uma péssima impressão ao representante de uma das maiores empresas de Portugal em 1999.
José Martins – Reformado do MNE, 77 anos, não caduco ou senil.