03 maio 2013

Acordo Ortográfico. Em casa de ferreiro, espeto de pau

Nas regras fixadas para a prova de Língua Portuguesa, segundo a nota do presidente do júri, embaixador Fernandes Pereira, "solicita-se a especial atenção dos candidatos para o facto de que o enunciado da prova está redigido em conformidade com o Acordo Ortográfico, no cumprimento da Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011, de 25 de janeiro". Mas, logo a seguir, cumprindo sem cumprir, lá está escrito que "os candidatos poderão no entanto, nas suas respostas, utilizar a ortografia conforme o Acordo Ortográfico ou, em alternativa, a ortografia em vigor antes daquele Acordo mas terão, coerentemente, de respeitar o sistema ortográfico que houverem adotado ao longo da prova escrita de língua portuguesa". E para que não haja dúvidas quanto ao espeto de pau em casa de ferreiro, segue-se a admoestação: "as penalizações por eventuais erros de ortografia serão baseadas nas regras de um ou do outro sistema ortográfico que a candidato tiver expressamente escolhido no enunciado da prova, no espaço reservado para o efeito, devendo assinalar com um X a ortografia adotada"...

Primeiro, não há dois "sistemas" ortográficos e o Acordo em vigor não introduziu um sistema novo. Segundo, o ajuste oficialmente em vigor, manda o bom senso, o razoável gosto e a cultura geral tolerante, não pode nem deve considerar como erro a escrita, no todo ou em parte, segundo o anterior ajuste. Erro será a escrita que nenhum dos ajustes tolera, e apenas neste caso erro. Terceiro, num concurso oficial, para mais dentro do Ministério dos Negócios Estrangeiros, ou se cumpre ou não se cumpre. À la carte é que não e com ameaças de penalização do que, pelo anterior ou pelo novo ajuste, não é nem pode ser considerado erro.

1 comentário:

Zé Luís disse...

É curioso, não conhecendo a quem respeita este exemplo, em termos de CG ou Embaixada, acabei de viver uma experiência sui generis.

No recente concurso para o CG Zurique, o Aviso de Concurso (de 18/1/2013) era com a ortografia antiga. O teste de Português teve de ser já com o AO. Não se percebeu que penalização poderia haver, embora repetindo-se que se evitassem os erros (de ortografia).

Contudo, o texto para análise tinha um erro de sintaxe básico com o velho problema de não se saber quando usar o "do" ou o "de o" sem a contração da proposição e o artigo defintido.

Uma bela porcaria, de resto condimentada com rejeições à la carte, nada objectias e até mentirosas. Vou fazer uma circunstanciada exposição a várias entidades relacionadas do que já avisei - e contestei veementemente - o CG Zurique. Entretanto, a lista dos excluídos (e dos admitidos à entrevista) tinha sido publicitada mas já foi retirada da circulação.

A verdade é que gostaria de saber:
1) quem faz e publicita os avisos de concurso (atendendo a este ter sido sem o AO que depois impõem na prova);
2) quem escolhe um texto de Português para interpretação que traz um erro de sintaxe, além de ser pobre em conteúdo.

Também não percebi, nesta 1ª experiência, como é que obrigam a escrever à mão durante 60 minutos quando nenhum documento oficial do CG sai manuscrito. Deve ser a testar a habilidade e o desembaraço...