08 maio 2013

O Ministro Tântalo

A "política externa" portuguesa, à evidência, está presa por fios ao memorando a que uns tantos dão o nome refranizado de pacto de agressão, outros a designação equivalente a dobrar o Bojador da bancarrota, e que ainda outros erguem em glória como jazigo de Excel nos Prazeres. Sem direito ao título que corresponde ao exercício do cargo, o Ministro das Finanças é deveras o Ministro dos Negócios Estrangeiros, sobrando para o ministro que tem o título sem poder exercer o cargo na plenitude, as funções de diretor-geral, alguns discursos bilaterais condicionados pelo exame prévio das almejadas trocas comerciais vantajosas, alguma oratória esmoler de investimentos estrangeiros, e figura de corpo presente quando os deveres de representação a impõem de preferência sorridente. Pouco mais do que isso inspira ou suporta a ação diplomática, sendo que também isso fixa as margens da atividade externa do Estado, as balizas das instruções para as chancelarias, e as bitolas do suplício de Tântalo a que um virtual Ministro dos Negócios Estrangeiros se vê sentenciado no cumprimento da pena de ser Ministro do Comércio Exterior sem economia. Como no mito que aparece nos versos do Canto XI da Odisseia de Homero, é o sofrimento daquele que deseja algo aparentemente próximo, porém, inalcançável. A responsabilidade pelo facto da política desaparecer, não é do ministro, é própria do suplício. Fosse quem fosse, nessa condenação, passaria pelo mesmo. Da política externa portuguesa, desapareceu a política. Retomando o mito, num vale abundante em vegetação e água, o ministro Tântalo foi sentenciado a não poder saciar a sua fome e sede, pois, ao aproximar-se da água esta escoa e ao erguer-se para colher os frutos das árvores, os ramos movem-se para longe do seu alcance sob a força do vento.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sede tem. Muita sede! Mas a água nem lhe dá pela barba porque não tem barba.

Anónimo disse...

Apesar do redireccionamento do actual Ministro do Comércio Externo (diria mais, Ministro do Comércio Bilateral, que a política comercial externa da UE passa-lhe ao lado) a política externa, no actual enquadramento, é precisa. Sim da política. Mais do que nunca. E em todas as suas vertentes e ângulos.
DE