09 maio 2013

O MNE e os 11,71% dos votos

O Palácio das Necessidades obviamente que esteve sempre politizado, mas raramente partidarizado de forma impresiva. Ministros oriundos de partidos, uns mais outros menos, esforçaram-se por compatibilizar funções de soberania com interesses de grupo político organizado. Embora não esteja escrito, um MNE assumia-se quase como órgão unipessoal, acima de querelas e mesmo nos ministros mais polémicos notava-se algum esforço constante em salvar as aparências. Era o costume da casa, costume que se transmitia, na primeira linha, aos chefes de missão nomeados e exonerados pelo Presidente da República. Os ministros, uns após outros, foram apanhando essa boleia institucional, mais de isenção do que de distanciamento. À exceção de algumas inadvertências, prontamente escrutinadas pela hierarquia da carreira ou queimadas pela pressão de corredores e gabinetes, os ministros entraram sabedores ou foram aprendendo que mexer em melindrosas questões implicando a imagem externa do Estado, a unidade da sua ação e a dignidade da representação, exigiam sobrevoo das vicissitudes governamentais e o isolamento possível das contradições domésticas que o naipe de ministérios inevitavelmente acaba por sugerir. Assim foi em governos de maioria, em governos de minoria suportada por milímetros parlamentares e em governos de coligação.

Com Paulo Portas, ministro de Estado como os três antecessores e dos Negócios Negócios Estrangeiros com o peso simbólico e funcional que o cargo acarreta, iniciou-se um ciclo inédito. O Palácio das Necessidades ficou refém punido pelas marcações partidárias da coligação. É um Ministério do CDS, e punido na hierarquia do governo não por ser do CDS ou por Paulo Portas ser o ministro mas por ter sido reduzido a mera cabeça de S. João Batista numa bandeja à disposição de Herodes. Com funções de soberania, com túnel direto para Belém na representação do Estado e principal ator da execução da política externa, da cooperação para o desenvolvimento, da ligação às comunidades portuguesas no mundo, e da coordenação das ações externas dos outros ministérios. é número três, três que quase sempre parece cinco. Não é uma questão de punhos de renda que está e causa, o que está em causa é a desgraduação política do Ministro de Estado que, independentemente dos 11,71% em valor eleitoral fungível é a condição sine qua non da coligação, e desgraduação dos Negócios Estrangeiros para arvorar a secção governamental de guarda-livros.

Paulo Portas, como chefe de um ramo da coligação, das duas uma: se fala das questões domésticas, partidariza inevitavelmente o MNE; se está calado sobre Negócios Estrangeiros, eterniza e aprofunda a desgraduação. Nenhum dos antecessores de Paulo Portas passou por esta incomodidade.

6 comentários:

Anónimo disse...

É isso.

Anónimo disse...

O MNE/Ministério está sem autonomia nas suas competências e anda por aí como quem passa entre dois pingos de chuva.

Anónimo disse...

De acordo com este último comentário. Até porque a fase dos "grandes embaixadores" passou. Estamos na fse ds "embaixadores de expediente".
A.M.

Anónimo disse...

Curioso que, na linha de montagem deste Governo, a "grande conquista" tenha sido a Diplomacia Económica e que a mesma seja uma razão de degradação do tecido e da fibra diplomática portuguesa.
DE

Anónimo disse...

O Ministério mais partidarizado de sempre. Há medo no palácio. Portas e Morais Leitao são vingativos. Impõem medo e agora teem tb receio do espião Almeida Leite!

Anónimo disse...

Portas um MENE fraquíssimo e vaidoso.