11 maio 2013

Turismo parlamentar

Notáveis são as seis conclusões do "III Fórum Parlamentar Hispano-Português", de 6 e 7 de maio, em Madrid, conclusões tais que os parlamentares "desejam transmitir à XXVI Cimeira Bilateral Hispano-Portuguesa". Os deputados instam, pedem, congratulam-se, voltam a instar e desejam exprimir, mas o documento não passa  de texto de pirliteiros que dão piltritos.

A saber, o que instam a seco, com breves observações com destaque amarelo:

  1. ... os Governos são instados a dar os passos necessários para estreitar a cooperação em todos os âmbitos, quer junto das instâncias internacionais, quer no campo das relações bilaterais, e em particular, na sensibilização das instituições da União Europeia no desenvolvimento de políticas e adoção de medidas visando a coesão, o crescimento e o emprego. Mas que passos os governos não têm dado para os deputados instarem nesta redação escolar?
  2. ... pedem aos Governos de ambos os países para acelerarem os esforços para assentar as bases de um Mercado Ibérico do Gás paralelo ao que já existe para o mercado da energia elétrica. Igualmente, os Governos são chamados a procurar as ferramentas que contribuam para o incremento das excelentes relações comerciais, nomeadamente neste momento de dificuldade económica.  O que é isso de assentar as bases e procurar ferramentas?
  3. ... congratulam-se pelas ações levadas a cabo pelos Governos de ambos os países no estreitamento da colaboração existente no âmbito da cooperação no combate ao terrorismo, a delinquência organizada e ao tráfico de estupefacientes, e recomendam o estudo da constituição de equipas de investigação conjuntas. Os deputados manifestam a sua mais firme convicção de que o tráfico de seres humanos é uma nova forma de escravidão que supõe a mais grave violação dos direitos e das liberdades. Assim sendo, instam os Governos no combate deste flagelo com todos os instrumentos do Estado de Direito. Do mesmo modo, solicitam aos Governos para prosseguir a cooperação na luta contra a imigração irregular e a articular os mecanismos necessários para continuar a fortalecer a necessária colaboração em matéria de protecção civil, especialmente durante a época de incêndios. Sim, a époda de incêndios tem muito a ver com o enunciado.  
  4. ... instam os Governos de ambos os países para a conclusão das negociações de um Acordo sobre condições para o exercício da atividade das frotas espanhola e portuguesa nas águas de ambos os países, que substitua o que presentemente está em vigor e que finaliza no fim do ano 2013. Esse acordo, do mesmo modo que o atualmente vigente, deverá redundar em beneficio de ambas as frotas. Igualmente, convidam a adotar os passos necessários para a definitiva consecução e execução dos acordos alcançados na passada Cimeira do Porto sobre o exercício da atividade da frota de pesca artesanal das Canárias e da Madeira e constituição do Parque Internacional Tajo-Tejo. Quanto às pescas, sabem os portugueses em que redundam. E quanto ao Parque acordado a 9 de maio de 2012, os deputados deveriam saber que, pela parte portuguesa, o acordo foi aprovado pelo Conselho de Ministros, pouco antes, a 4 de abril passado, assinado por Cavaco Silva a 24 de abril, e publicado na folha oficial na passada quinta-feira, 9 de maio, o mesmo e nas mesmas datas acontecendo com o acordo para as Canárias e Madeira... 
  5. ... instam os Governos de ambos os países a continuarem a trabalhar em prol da melhoria progressiva e substancial das ligações rodoviárias, ferroviárias e logísticas. Designadamente, pedem aos Governos que continuem os seus esforços em conformidade com o acordado na modernização das ligações ferroviárias, designadamente a ligação Porto-Vigo, numa primeira fase mediante disponibilização ao público de um bilhete único. Do mesmo modo, pedem que sejam estudadas as fórmulas necessárias para tornar realidade o acordo adotado na Cimeira do Porto relativamente a interoperabilidade dos sistemas de teleportagem, quer do ponto de vista técnico quer do ponto de vista financeiro. Mas que conversa entre o senhor feliz e o senhor contente!
  6. ... desejam exprimir a sua vontade de continuar a colaborar no quadro europeu e ibero americano como espaços de interesse comum, abertos para uma intensa cooperação. Do mesmo modo, Espanha e Portugal devem manter a celebração periódica das cimeiras bilaterais e dos respetivos fóruns parlamentares como quadro institucional privilegiado das excelentes relações bilaterais. O quadro europeu e o quadro ibero-americano podem existir sem serem espaços de interesse comum? E o fórum parlamentar justificar-se-á como quadro institucional de turismo privilegiado? 

3 comentários:

Anónimo disse...

Mas que figura fazem os parlamentares portugueses enrolados nisso!

I.M.

Anónimo disse...

São os deputados que, como deputados, têm que "dar os passos necessários"... Reunirem-se deputados de dois países para acordarem num papel que parece endereçado a governos de potências estrangeiras (instam, congratulam-se, pedem...) é ridículo e só mostra a falta de qualidade da actividade parlamentar,

M.

Anónimo disse...

Os procedimentos democráticos ainda não chegaram à carreira. Não há transparência e possivelmente os interessados não a querem, muitos esperançados na sorte e confiados nos empenhos. Nisto, até o Brasil nos dá lições.