04 fevereiro 2017

Trump ou não-Trump, eis a questão

O presidente dos EUA, Donald Trump entrou inusitadamente na cena internacional, provocando reações díspares no exterior do seu país - as do interior, compete aos norte-americanos. Desde logo, ligou em cadeia as antenas dos diversos nacionalismos exacerbados, avessos por doutrina a regimes democráticos e avessos aos movimentos de integração pacífica e acordada nos grandes espaços do planeta, concretamente da Europa e nesta, à cabeça, a União Europeia. É um facto que desequilibrou aquilo que se tem entendido por relações diplomáticas. Ao saudar pela forma como saudou o Brexit, meteu a foice em seara alheia; ao nomear para representante dos EUA junto da UE uma personalidade que, logo na primeira hora, declarou ser seu propósito fazer com a união construída por tratados o mesmo trabalho que fez para a dissolução da União Soviética, pôs em crise o entendimento que se tem tido sobre o papel de Washington num continente,a pesar de tudo, pacificado; ao hastear a bandeira de grandes combates no mundo sem ouvir os aliados e ao arrepio destes, designadamente a NATO, reentrou na senda dos polícias do mundo; ao achincalhar a Organização das Nações Unidas sem indicar que alternativa propõe para a convivência organizada dos povos, estados e nações, deixou sugerida uma sequela do que levou ao fim da Sociedade das Nações e um indício de ressurreição de quem, em nome da "liberdade dos alemães" apressou esse fim; e tudo o mais que, subindo ao noticiário quotidiano inesperadamente, vai causando apreensão e, sem dúvida, temor nas zonas do planeta que não querem uma nova Grande Guerra mundial e por causa disso mesmo recusam interpretações disfóricas sobre as causas do terrorismo organizado que não escolhe fronteiras.

E é assim que a diabolização de Trump ou do trumpismo começou a fazer caminho juntamente com a diabolização do que apareça como anti-Trump ou como anti-trumpismo, se é que Trump já tenha feito doutrina. Mas, mais grave, é a sugestão de que a espionagem e de quem a pode fazer, deve substituir a diplomacia, e que quem, podendo e devendo, a recusa fazer.

Ainda é cedo para se ter a certeza de que os EUA esgotaram o seu próprio escrutínio, mas sem delongas será aconselhável que as diplomacias estejam atentas e, em tempo de relativa paz, não se limitem a limpar as armas.

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