16 setembro 2003

Comecemos pela questão corrente do Embaixador Silveira Carvalho

Cumpre-nos transmitir a Portugal e Arredores e Bloguítica, sobre a questão corrente da demissão do Embaixador João Pedro de Silveira Carvalho do cargo mais importante da hierarquia do Ministério dos Negócios Estrangeiros, se descontarmos a figura do Secretário-Geral, mais vocacionada para os aspectos administrativos, o seguinte e por nota verbal:

Silveira Carvalho foi demitido por instrução directa de Durão Barroso, contra a vontade de Martins da Cruz, e enviado para o posto menor de Embaixador em Otava (Canadá).

O diplomata era Director-Geral de Política Externa há pouco mais de um ano, funções que lhe haviam sido confiadas pelo Ministro Martins da Cruz, de quem é amigo íntimo de há muito. Como alguma imprensa referiu, Silveira Carvalho foi uma escolha polémica para o cargo: sem dispôr de grande prestígio na Carreira, com muitas más-vontades acumuladas ao longo de anos, o seu nome estava longe de ser consensual. Entre 1998 e 2002, o seu trabalho como Director-Geral dos Assuntos Comunitários esteve longe de brilhante e a ocupação desse cargo ficou apenas a dever-se à sua amizade e protecção do então Secretário de Estado, Seixas da Costa, que o manteve em funções por razões que muitos continuam a entender como muito misteriosas. Mal Seixas saiu para Nova Iorque, o Ministro Jaime Gama enviou-o para a Embaixada em Dublin, trocando-o pelo excelente João de Vallera, que Martins da Cruz “despachou” para Berlim mal chegou às Necessidades. E Martins da Cruz foi buscar Silveira Carvalho a Dublin.

Mas voltemos a Silveira Carvalho. Porque caiu ? Porque terá descurado a candidatura do actual Secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Costa Neves, ao cargo de Enviado Especial da União Europeia para o Médio Oriente. Esta era uma “candidatura surpresa” que Durão Barroso inventou e tentou promover, depois de se ter confrontado com o inesperado “não” de Seixas da Costa ao cargo. Silveira Carvalho (para sublinhar e apoiar a atitude de Seixas?) ter-se-á mostrado pouco diligente nos contactos europeus que havia sido encarregado de fazer e o Secretário de Estado viu-se apoiado apenas pelo Luxemburgo e pela Espanha e confrontado com a nomeação de um obscuro diplomata belga para o lugar.

Mas há mais! Silveira Carvalho tinha também como missão promover a candidatura do Embaixador José Cutileiro ao lugar de Representante das Nações Unidas no Kosovo. Sabendo-se que caberia à União Europeia a indicação do nome, era nesse âmbito que a decisão seria tomada. Acontece que, entre Silveira Carvalho e José Cutileiro há um contencioso de décadas, em que um “elemento de ordem pessoal" não é estranho. Colocar a sorte de Cutileiro nas mãos de Carvalho era uma verdadeira ironia, para quem conhece as Necessidades. O “esforço” de Silveira Carvalho para levar o Embaixador até Pristina não terá sido por aí além, antes terá deixado cair, aqui e ali, que se tratava de “um homem dos ingleses”, o que chegou aos ouvidos de Barroso. O destino de Carvalho terá ficado então marcado.

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