A visita de
Durão Barroso a Angola, ou, talvez mais rigorosamente, o
acolhimento do Governo de Luanda a Durão Barroso, decorre exactamente como interessa a cada uma duas partes.
Durão Barroso precisa de algum sinal exterior de alento, de algum acontecimento que, vindo do exterior, provoque algum optimismo na opinião portuguesa dominada pela lassidão. Sobretudo, precisa de alguma glosa dessa reclamada visibilidade do País cada vez mais miniaturizado pela compressão da UE e pela meramente formal interdependência ibérica que é o destino que alguns traçaram em nome de todos. Angola serve essa necessidade de escape que o Primeiro- Ministro sente.
José Eduardo dos Santos, Presidente da República de Angola, de facto chefe do executivo angolano que é talhado a seu gosto (Nandó é Nandó) e, ao mesmo tempo, líder do partido vencedor da guerra civil que dilacerou a antiga colónia a qual, em larga medida, o legitimou numa das mais prolongados e ininterruptos exercícios de poder em África, precisa destas cenas muito mais do que Durão Barroso. Ter Portugal como advogado ajuda muito, sem dúvida, José Eduardo dos Santos. O que conseguiu em dois tabuleiros: a nível de Estado, aí tem o Primeiro-Ministro português a dirigir-lhe as palavras de que internacionalmente tanta carência moral tem; e a nível do seu partido, o MPLA, aí tem o tapete vermelho estendido pela Internacional Socialista que passa a conhecer na presidência não um alemão, um francês ou um espanhol, mas o português António Guterres. Dois em um, na linguagem das grandes superfícies. Após um seriado de escândalos (em França, por exemplo) José Eduardo dos Santos tem obviamente conveniência em que Angola esteja ou possa estar na moda, quer junto dos gregos quer junto dos troianos.
A visita do Governo Português (dez ministros) a Angola é, pois, de elevado interesse político (interno) para o Primeiro Ministro Durão Barroso na proporção directa do interesse, também político, que José Eduardo dos Santos tem em extrair do acolhimento o máximo de redenção possível.
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