27 outubro 2003

Escutas telefónicas chegaram ao MNE

No Largo do Rilvas, um soldado da GNR de turno pontapeou uma bola de papel que rolou da guarita pela calçada abaixo. Foi esta a breve explicação dada por quem decidiu entregar o documento, aparentemente inóquo, a Notas Verbais. Rapidamente se verificou tratar-se da transcrição de uma escuta telefónica e em papel timbrado do MNE!

Enquanto o Telegrama sobre Angola II não chega, num momento em que está na moda a transcrição pública de conversas telefónicas, NV tem o prazer de apresentar, num registo que tem tanto de verdadeiro como de imaginativo, uma recente conversa entre o ex-ministro e agora recém-regressado diplomata Martins da Cruz e o Secretário-Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, embaixador João da Rocha Páris.

NV está ciente de não ferir o segredo de justiça até porque, seguramente, nenhum dos interlocutores é arguido de nada.

Mas vamos à conversa:

Rocha Páris (JRP) – Está lá ?
Martins da Cruz (MC) – Estou, João?
RP – Sim, António?
MC – Ó João, porque é que demoraste tanto a atender? Estive vários minutos pendurado, depois de falar com a tua secretária…
RP – Ó António, tens de compreender que há muito trabalho e que tenho outras coisas entre mãos!
MC – Tá bem, Tá bem ! Começo a perceber que «rei morto, rei posto»…
RP – Não sejas injusto ! Sabes muito bem que podes sempre contar comigo, mas eu tenho uma vida muito ocupada. E a Ministra está-me sempre a pedir coisas. Tu sabes como é…
MC – Pois, a Ministra… Olha lá, ó João, disseram-me que «Notas Verbais», aquela coisa na internet sobre o Ministério, traz que eu tenho de me apresentar ao serviço no prazo de 5 dias. Que brincadeira é essa ? O que é que diz a lei?
RP – É isso mesmo. Tens que passar por cá, vires-te apresentar, para eu depois te distribuir destino.
MC – Essa agora!? Distribuir destino? Então queres que eu vá para os serviços?
RP – Ó António, das duas uma: ou sais da carreira ou voltas à carreira. Se sais, tens que pedir a aposentação e essas coisas. Se queres ficar ligado ao Ministério, tens que seguir a lei. Eu acho que isto é tudo muito simples!
MC – Muito simples !? Tás-me a ver agora a ir para um serviço ? Havia de ser bonito! Eu não vou pr’aí, pá ! Tira daí o sentido ! Era só o que faltava!
RP – Ó António, vê se percebes a minha situação. Não posso tratar-te de forma diferente dos restantes funcionários, senão cai-me tudo em cima. Bem basta o que já passei por tua causa ! Se tu queres ficar na Casa, tens de cumprir a lei.
Secretária (interrompendo) – Ó Senhor Secretário-Geral, eu peço desculpa de interromper mas a D. Maria Elisa diz que não pode ficar muito mais tempo à espera. Diz que só quer saber o montante do complemento de representação que pode receber pelo FRI.
RP – Ó Laurentina, diga-lhe que estou a falar com o ministro Marti… com o embaixador Martins da Cruz e que já lhe ligo. Ó António, ainda estás na linha?
MC – Estou, João, estou. Atão agora estás a tratar da Elisa !? Essa é que se safou bem…! E vais-lhe dar massa do FRI?
RP – Ó António, tu sabes melhor que ninguém que não é a primeira vez. Mas vamos lá ver se nos entendemos. Tu queres-te apresentar ao serviço ou não?
MC – Ó João, mas tu vais-me distribuir serviço ou quê? Estás a brincar? Para onde é que queres que eu vá? Para o Livro Branco? Ou prós Jurídicos?
RP – Para os Jurídicos não me parece muito conveniente, depois do que te aconteceu… (risos). Mas ó António, vamos fazer assim: tu estás apresentado, este telefonema foi a tua apresentação e depois logo se vê! Eu dou-te férias, pá, não precisas de te preocupar. E falamos lá para meados de Novembro. Tá bem assim?
MC – Eh pá, não estou a gostar nada desta conversa e, pá, deixa-te de graçolas sobre a minha saída, tá bem?
RP – Ó António, não leves a mal, pá! Tava só a brincar! Mas, se quiseres, eu falo com a Ministra sobre a tua situação e pode ser que se arranje qualquer outra coisa…
MC – A Ministra?! Eu vou é falar com o Zé Manel, pá, e depois telefono-te.
RP – OK, António, mas, de qualquer forma, não te esqueças de aparecer lá p’ra meados de Novembro. Dá uma apitadela à minha secretária, só para não ficares muito tempo à espera…
MC – Ficar à espera ?… Ó João, tu não me irrites, pá! Tás-te a armas aos cágados, ou quê?
RP – Aos quê ? Ó António, por amor de Deus, já estás como uma linguagem como o Ferro Rodrigues, Vê lá se te acalmas
MC – O Ferro Rodrigues?! Tu agora vens-me com os socialistas?! Olha que p**** !
RP – Ó António, tem paciência, deixa-te dessa linguagem. Desculpa dizer-te, pá, mas está a falar com o Secretário-Geral do Ministério. Vamos manter alguma dignidade na conversa, se não te importas…
MC – Dignidade uma ova, pá! Vai p’ró Diabo! Depois telefono-te. Adeuzinho.

(corte de ligação)

RP – Ó António ! António ! Esta agora !? Este tipo julga que é quem? (corte de ligação).(nova ligação): Ó Laurentina, ligue-me então à D. Maria Elisa. E no final, pode mandar entrar o Adido Naval em Berna. Como é que disse que ele se chamava? Ah sim, Trigoso...

NV promete estar atento a futuras conversas entre estes interlocutores.


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