No Largo do Rilvas, um soldado da GNR de turno pontapeou uma bola de papel que rolou da guarita pela calçada abaixo. Foi esta a breve explicação dada por quem decidiu entregar o documento, aparentemente inóquo, a Notas Verbais. Rapidamente se verificou tratar-se da transcrição de uma escuta telefónica e em papel timbrado do MNE!
Enquanto o Telegrama sobre Angola II não chega, num momento em que está na moda a transcrição pública de conversas telefónicas, NV tem o prazer de apresentar, num registo que tem tanto de verdadeiro como de imaginativo, uma recente conversa entre o ex-ministro e agora recém-regressado diplomata Martins da Cruz e o Secretário-Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, embaixador João da Rocha Páris.
NV está ciente de não ferir o segredo de justiça até porque, seguramente, nenhum dos interlocutores é arguido de nada.
Mas vamos à conversa:
Rocha Páris (JRP) – Está lá ?
Martins da Cruz (MC) – Estou, João?
RP – Sim, António?
MC – Ó João, porque é que demoraste tanto a atender? Estive vários minutos pendurado, depois de falar com a tua secretária…
RP – Ó António, tens de compreender que há muito trabalho e que tenho outras coisas entre mãos!
MC – Tá bem, Tá bem ! Começo a perceber que «rei morto, rei posto»…
RP – Não sejas injusto ! Sabes muito bem que podes sempre contar comigo, mas eu tenho uma vida muito ocupada. E a Ministra está-me sempre a pedir coisas. Tu sabes como é…
MC – Pois, a Ministra… Olha lá, ó João, disseram-me que «Notas Verbais», aquela coisa na internet sobre o Ministério, traz que eu tenho de me apresentar ao serviço no prazo de 5 dias. Que brincadeira é essa ? O que é que diz a lei?
RP – É isso mesmo. Tens que passar por cá, vires-te apresentar, para eu depois te distribuir destino.
MC – Essa agora!? Distribuir destino? Então queres que eu vá para os serviços?
RP – Ó António, das duas uma: ou sais da carreira ou voltas à carreira. Se sais, tens que pedir a aposentação e essas coisas. Se queres ficar ligado ao Ministério, tens que seguir a lei. Eu acho que isto é tudo muito simples!
MC – Muito simples !? Tás-me a ver agora a ir para um serviço ? Havia de ser bonito! Eu não vou pr’aí, pá ! Tira daí o sentido ! Era só o que faltava!
RP – Ó António, vê se percebes a minha situação. Não posso tratar-te de forma diferente dos restantes funcionários, senão cai-me tudo em cima. Bem basta o que já passei por tua causa ! Se tu queres ficar na Casa, tens de cumprir a lei.
Secretária (interrompendo) – Ó Senhor Secretário-Geral, eu peço desculpa de interromper mas a D. Maria Elisa diz que não pode ficar muito mais tempo à espera. Diz que só quer saber o montante do complemento de representação que pode receber pelo FRI.
RP – Ó Laurentina, diga-lhe que estou a falar com o ministro Marti… com o embaixador Martins da Cruz e que já lhe ligo. Ó António, ainda estás na linha?
MC – Estou, João, estou. Atão agora estás a tratar da Elisa !? Essa é que se safou bem…! E vais-lhe dar massa do FRI?
RP – Ó António, tu sabes melhor que ninguém que não é a primeira vez. Mas vamos lá ver se nos entendemos. Tu queres-te apresentar ao serviço ou não?
MC – Ó João, mas tu vais-me distribuir serviço ou quê? Estás a brincar? Para onde é que queres que eu vá? Para o Livro Branco? Ou prós Jurídicos?
RP – Para os Jurídicos não me parece muito conveniente, depois do que te aconteceu… (risos). Mas ó António, vamos fazer assim: tu estás apresentado, este telefonema foi a tua apresentação e depois logo se vê! Eu dou-te férias, pá, não precisas de te preocupar. E falamos lá para meados de Novembro. Tá bem assim?
MC – Eh pá, não estou a gostar nada desta conversa e, pá, deixa-te de graçolas sobre a minha saída, tá bem?
RP – Ó António, não leves a mal, pá! Tava só a brincar! Mas, se quiseres, eu falo com a Ministra sobre a tua situação e pode ser que se arranje qualquer outra coisa…
MC – A Ministra?! Eu vou é falar com o Zé Manel, pá, e depois telefono-te.
RP – OK, António, mas, de qualquer forma, não te esqueças de aparecer lá p’ra meados de Novembro. Dá uma apitadela à minha secretária, só para não ficares muito tempo à espera…
MC – Ficar à espera ?… Ó João, tu não me irrites, pá! Tás-te a armas aos cágados, ou quê?
RP – Aos quê ? Ó António, por amor de Deus, já estás como uma linguagem como o Ferro Rodrigues, Vê lá se te acalmas…
MC – O Ferro Rodrigues?! Tu agora vens-me com os socialistas?! Olha que p**** !
RP – Ó António, tem paciência, deixa-te dessa linguagem. Desculpa dizer-te, pá, mas está a falar com o Secretário-Geral do Ministério. Vamos manter alguma dignidade na conversa, se não te importas…
MC – Dignidade uma ova, pá! Vai p’ró Diabo! Depois telefono-te. Adeuzinho.
(corte de ligação)
RP – Ó António ! António ! Esta agora !? Este tipo julga que é quem? (corte de ligação).(nova ligação): Ó Laurentina, ligue-me então à D. Maria Elisa. E no final, pode mandar entrar o Adido Naval em Berna. Como é que disse que ele se chamava? Ah sim, Trigoso...
NV promete estar atento a futuras conversas entre estes interlocutores.
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