Da correspondência para o Cônsul Fonseca Fagundes.
«NOVEMBRO, 21 / LISBOA - Sim, já se sabe, meu caro cônsul Fonseca Fagundes - foram roubados 196 passaportes portugueses no consulado em Santos, o que na realidade nem constou muito na política nem no Estado. Mas o Brasil está longe e, vamos lá a ver, meu caro cônsul, um roubozito desses – 200 passaportes, uma ninharia – não é coisa para se empolar. E até será um acto reparador e triunfal que, em algum dia destes, possam chegar à Portela não 200 Sem Terra mas 200 Com Passaporte – o que, meu caro cônsul, sempre será um traço de festa nacional muito mais digno do que repetir-se na mesma Portela a chegada de um autarca com 200 mulheres sem roupa contratadas para animar o seu Carnaval local e, depois, qualquer casino que valide a documentação da nudez. Não se preocupe com isso, meu caro cônsul que ladrão brasileiro ou favorece donzela ou deputa o roubo em quem tem cem anos de perdão.
Mas o que me causa descrença e desafeição é que, sem se saber onde foram pilhados, estejam desaparecidos neste momento:
154 Passaportes comuns
42 Impressos de passaportes temporários
17 Impressos de passaportes comum
93 Vinhetas Shengen
Sim, meu caro Fonseca, se estes impressos e vinhetas tivessem sido roubados no Consulado em Santos, como eu respiraria de alívio – as vinhetas iriam remediar certamente mais uns 93 sem terra e os impressos tornariam irresistíveis mais umas donzelas de cujo senso prático e método o nosso País tanto carece para animar o poder local nos três dias antes do entrudo. Infelizmente não foi em Santos, e temo, meu caro cônsul, que as vinhetas – sobretudo as vinhetas! – andem neste momento de camelo.»
Sem comentários:
Enviar um comentário