Desinteressante pelo lado da política externa, o Palácio das Necessidades está, ao que parece, interessante pelo lado do teatro. Para começar, temos hoje o CMA/CMX03 que não é uma matrícula de jeep da GNR mas o nome da peça – um drama simulado em todas as capitais da União Europeia e da Aliança Atlântica. Desta vez, porque é teatro, não há directório europeu nem hegemonia americana. Com ar conciso, mas até lhe convirá um quê de gravidade, o sr. Solana representará ao lado do sr. Robertson pelo que o palco de Bruxelas dará certamente fotografia que corra mundo para que qualquer chinês de rabicho que tenha acesso ao jornal do dia ou mesmo até um bosquímano escolhido para decorar a democracia parlamentar dos antípodas, sejam levados a exclamar simultaneamente - «Os europeus e os americanos estão unidos!» - tudo pelo impacto universal daquele CMA/CMX03.
E por cá? Nós também vamos nesse teatro, pelo que, sensivelmente à mesma hora que, em Londres, o sr. Blair e o sr. Chirac tentarão como sempre dissimular a desunião europeia em matéria de defesa, a nossa Ministra Teresa Gouveia deverá, lentamente mas com a leveza graciosa do seu perfil sereno, descer as escadas desde o Terceiro Andar das Necessidades, degrau a degrau, até ao rés-do-chão da Célula de Gestão de Crises do MNE. E aqui, sim. Teremos Ministra!
Pode Portugal nada ter para dizer sobre a crise na Geórgia, a mudança Croata, o berbicacho do Afeganistão, os indecentes atropelos em Cabinda, o 31 em que se meteu no Iraque para onde se deveria sensatamente ter enviado militares e não apenas 128 jornalistas fardados de GNR, muito embora, para garantia da sua segurança, estejam acompanhados por 16 comandos à paisana, fortemente preparados, e que disfarçam a sua condição escrevendo ou falando sobre os perigos do fim do Ramadão, se possível com uma mesquita ao fundo ou com um árabe a atravessar a rua batendo no aldrabão sorridente do burro… E pode Portugal ainda dispensar-se da preocupação com a futura Constituição Europeia, descansado na secreta inteligência dos seus ministros e nas sigilosas manobras de meia-dúzia de negociadores escolhidos. É que hoje, a meio da manhã, naquele rés-do-chão da Célula de Gestão de Crises das Necessidades, temos Ministra! O bosquímano ou o mongol de rabicho certamente não verão amanhã a fotografia de Teresa Gouveia – o sr. Solana e o sr. Robertson roubar-lhe-ão o espaço – nem as televisões dos anéis de fogo do Pacífico passarão a imagem da nossa Ministra recortada no vulto desfocado do Embaixador Fernandes Pereira apontando a dedo, por certo, um mapa e talvez uma crise em algum ponto desse mapa… Mas, garantido está, que essa imagem vai ser vista desde Mirandela a Castro Marim e mesmo que a Política Externa se tenha sumido para sempre nas brumas do Atlântico, o teatro permitirá que o País diga em coro: «Temos Ministra!»
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