23 janeiro 2004

2300 ou 1600?

NV observam, com todo o distanciamento, o impacto da greve geral da administração pública que pela primeira vez implicou os funcionários do MNE dos serviços externos (consulados e missões diplomáticas). Tipicamente português tem sido a manipulação dos números de adesão a este tipo de manifestação.

Fica à consideração dos leitores (notadores, como o ministro plenipotenciário Charles Calixto gosta que se designem e tem razão) a interpretação do comunicado sindical que a seguir se transcreve na íntegra e que em devido momento será transferido para Notas Formais.

O comunicado fala por si e há alguém que, com esta história do número de trabalhadores colocados nos serviços externos, decididamente, não está a ajudar a Ministra.

Segue:

«Greve na Administração Pública – Consulados encerrados
«Sindicato pergunta onde estão os 600 trabalhadores que faltam...

«A propósito da greve nacional da administração pública que hoje se realizou, à qual aderiram pela primeira vez os trabalhadores dos serviços externos do MNE, com a elevada adesão noticiada em nota informativa do STCDE emitida cerca das 14 horas, foi a Agência Lusa ouvir a versão do Ministério acerca desta adesão à greve.

«Vem o MNE informar que ‘a adesão média dos trabalhadores consulares à greve da Função Pública foi de 34 por cento num universo do 2300 trabalhadores’ segundo “fonte do MNE” citada pela Lusa.

«Face a tais números avançados pelo Palácio das Necessidades, cumpre-nos questionar o seguinte:

«Onde foi tal ‘fonte do MNE’ inventar um ‘universo de 2300 trabalhadores’?

«Como se sabe, os quadros dos serviços externos do MNE (de vinculação e contratação) estão publicados no Diário da República (Portarias 1087 e 1088/2000, de 15 de Novembro). Tais quadros comportam um total de 2071 lugares e a 'fonte do MNE' não deveria desconhecer que estes quadros se encontram com lugares vagos em cerca de 20%. Ou seja, o universo pouco excede os 1600 trabalhadores.

«Ora, se a 2300 corresponde 34% de adesões, segundo a “fonte”, a 1600 corresponde cerca de 49%. Estamos entendidos?

«E já que estamos em maré de perguntas, aqui vão mais algumas:

«1. Quando pensa o MNE negociar as actualizações salariais para o ano corrente?

«2. E as dos anos anteriores (contratados sem actualização desde 2000)?

«3. Quando pensa processar a subida de escalão dos vinculados que deveria ter feito este mês?

«4. Quando passa a respeitar o direito a passaporte especial de serviço e acreditação adequada dos trabalhadores junto das autoridades locais?

«5. Quando passa a processar correctamente o abono para falhas ou as chamadas ‘gerências interinas’?

«6. Quando é que abre concursos para promoção e novas admissões em vez dos ilegais contratos a prazo?

«7. Quando cumpre a lei e a Constituição respeitando os direitos de todos os trabalhadores á segurança social?

«8. Em suma, quando se dispõe a respeitar tudo o que está legalmente estipulado no Estatuto Profissional dos Trabalhadores dos Serviços Externos do MNE?»

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