18 março 2004

O discurso bem composto da Número Dois em Genebra

Fez bem a Número Dois referir em Genebra que Portugal está na raiz de três iniciativas diplomáticas (a mão cheia de Martins da Cruz, o seu a seu dono, diga-se) no campo multilateral: uma resolução global sobre a realização dos direitos económicos, sociais e políticos, uma resolução sobre o direito à educação e uma resolução relativa à protecção do pessoal das Nações Unidas.
E fez também bem evocar a proposta apresentada por Durão Barroso na Assembleia Geral da ONU, para a criação de uma comissão para a paz e desenvolvimento, com o objectivo de tratar em conjunto as causas da proliferação dos conflitos, sob mandato do Conselho de Segurança e do Conselho Económico e Social (ECOSOC) e trabalhando em estreita ligação com as instituições de Bretton Woods.
Fez as duas coisas bem, como lhe competia. As diplomacias concorrentes da nossa deixam-nos campo livre nas matérias éticas ou perto da ética e não mais ou pouco mais, além de que, em matéria de aprovação de comissões, os países têm a vocação do consenso, aí teremos quase garantida a aprovação por consenso para mais uma comissão para a montanha de comissões da onu. Será mais uma.

Todavia, além desse discurso do bom compatamento e que não debita qualquer novidade a Número Dois falou do Haiti em termos vagos e de Timor-Leste em termos concretos para a renovação da presença da ONU no territórioo que também não é nem novo nem novidade.
Enfim, citou o Haiti!

Mas,
  • Sobre a questão do combate ao terrorismo e que está na agenda mundial, nem uma palavra teve eco.
  • Sobre a questão Israel-Palestina, nem uma palavra fez eco.
  • Sobre a questão de Cuba, nem uma palavra bateu em eco.
  • Sobre a questão de Guantanamo, nem uma palavra teve força para eco.
  • Sobre o que se passa em Angola em matéria de direitos humanos, qual eco!
  • Sobre as violações dos Direitos das Mulheres e das Crianças, nem um apito quanto mais eco.

    A nossa diplomacia continua com o discurso banalmente bonito, de recapitulação reverente e cumprimento cinzento de agenda, mas sem golpe de asa, sem coragem e sem uma ideia que marque.

    A nossa Número Dois deve ter notado, por exemplo, que a homóloga Sueca da nossa Número Um, Lai Freivalds, não teve papas na língua em denunciar as violações dos direitos humanos no Zimbabwé, na China, no Irão, nos territórios ocupados, na Síria, em Cuba (oh! como Havana de imediato protestou!), na Chechénia, na Bielorússia e no contexto do conflito entre israelitas e palestinianos. Que se referiu aos progressos na igualdade dês exos e direitos da mulher em Marrocos, no Ruanda e na Nigéria. Basta.

    A nossa Número Dois deve ter notado que outra homóloga europeia da nossa Número Um, a MNE austríaca Benita Ferrero-Waldner, denunciou as violações dos direitos das mulheres como das mais graves no mundo de hoje, insurgindo-se, alto e bom som, contra a aplicação da pena de morte por lapidação a mulheres que tenham um filho fora do casamento. Deve ter notado que a MNE austríaca, em vez de comissões, convidou os governos a assinar e a ratificar o protocolo adicional à Convenção sobre a Criminalidade Organizada à escala Transnacional… Basta.

    Basta.
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