19 maio 2004

Os altifalantes nacionais atribuíram hoje à Senhora Ministra Teresa Gouveia o anúncio de que o Governo Português criou uma linha de crédito no valor de 100 milhões de euros para estímulo ou apoio de investimentos portugueses em Marrocos. E certamente com a intenção generosa de dar uma chamazinha ao optimismo nacional, a Senhora Ministra foi mais longe – disse que a linha de crédito já está disponível e que foi negociada entre o Ministério das Finanças e da Economia e a Caixa Geral dos Depósitos.

Inteligente mas também reservado como todos os filhos da Cidade de Fez, o Ministro marroquino Mohammed Benaissa, ao lado da nossa reservadissima mas também inteligente Teresa Gouveia, se fez bem as contas da linha de crédito, também não lhe competia chamar à razão dos números a diplomacia portuguesa para a qual, pelos vistos, a diferença entre dez milhões de euros ou cem milhões de euros é coisa pouca.

E muito menos alguém, fosse quem fosse, independentemente da reserva e da inteligência ou da naturalidade de Fez ou de Lisboa dos interlocutores, se atreveria a perguntar à Ministra ou ao Ministro e desde quando é que essa linha de crédito foi criada, qual a numeração romana do governo que a criou – se o XV ou XIV.

Como se sabe, esta República é transparente - nela, o que é, é público. E, a não ser que haja alguma excepção sediciosa contra tal transparência, o que é público é o que consta exactamente no ICEP de hoje - dia em que a Senhora Ministra garantiu que a linha de crédito já está disponível.

Ora, o ICEP de hoje pura e simplesmente diz que a linha de crédito de apoio à exportação para Marrocos, foi criada pelo Despacho conjunto n.º 588/2001 no valor global de 10 milhões de euros... e que o período de imputação das operações decorre até 2005.

Confundir-se nas Necessidades Dez Milhões com Cem Milhões, é uma desatenção grave. E omitir-se que essa linha anda a rolar desde o Governo à data de 2001 e não de 2004, politicamente é desprimoroso.

Ou será que o ICEP esconde aos potenciais investidores portugueses alguma coisa que não se sabe e que a folha oficial também terá omitido?

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