O Embaixador Agapito Barreto foi esta tarde ao Palácio das Necessidades.
«Nada de anormal, meu caro. Nada de anormal! Apenas quis ver, ainda que à distância, a cara do Ministro dos Negócios Estrangeiros do Iraque, Hoshyar Zibari ao lado da nossa estranha leveza do ser.»
Então, e a cara?
«Olhe, sabe uma coisa? Tive a sensação de que a Teresa já deu a entender que conversar com portugueses não é o mesmo que conversar com polacos.»
A conversa rumou depois para o assunto do dia, o movimento diplomático. Claro que os lobbies das Necessidades vieram à baila.
«Vejo que o meu Amigo tem uns arquivos implacáveis sobre a casa. Mas quanto ao lobby de que falou há tempos, creio que a sua importância já foi maior... Aliás, em termos de grupos, eu tenho uma leitura do MNE um tanto cínica.»
Um cinismo jubilado...
«Corrijo, corrijo – cinismo na disponibilidade em serviço. Mas vamos aos lobbies.»
Vamos aos lobbies.
«Nestes movimentos diplomáticos é que a coisa se nota mais. Você pode discordar mas divido as Necessidades entre os que "os" têm no sítio - com Gamas, Cruzes, Gouveias ou outros - e assumem alguns princípios - nomeadamente trabalhar - e uma grande manada que segue quem está no 3º andar e que procura gerir a vidinha até à reforma, a maioria dos quais fazendo o mínimo possível e amealhando o máximo que conseguirem.»
Oh embaixador, que linguagem! Manada?
«Qual linguagem, qual carapuça! Sim, manada! E, pelo meio, há ainda os talibãs, os que querem queimar etapas e chegar cedo ao topo, mesmo que tropecem no parceiro. Você já deve ter lido esse opúsculo recente do Marcelo Mathias que traz uma descrição, desencantada mas curiosa, sobre os nossos diplomatas. Você não devia perder de vista esse texto, dadas as funções de observação que exerce.»
E lá se sumiu Agapito pelo corredor afora, gesticulando, gesticulando até à guarita do guarda. Aqui, quase espetando o dedo na farda do rapaz em sentido, ainda se ouviu o embaixador como que a dar uma ordem: «E você também devia ler o opúsculo do Marcelo, ouviu?»
«Sim, senhor embaixador, vou ler», respondeu timidamente o rapaz da GNR, o qual, soubemos posteriormente, é licenciado em relações internacionais, vai concorrer desfardado para adido e jura não querer ser mais um talibã.
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