É o Instituto Camões, a tal e célebre pessoa colectiva de direito público que, por causa das dúvidas, é dotada de autonomia administrativa, financeira e patrimonial. Assim é que, sob a pressuposta superintendência do Ministro dos Negócios Estrangeiros, o Instituto Camões assegura «a orientação, coordenação e execução da política cultural externa de Portugal». E para que não fique em terreno alheio essa nobre missão nem para que o Camões se arrogue de exclusividades espúrias, a lei faz uma precisão dessa política conferindo ao Instituto do MNE a responsabilidade pela difusão da língua portuguesa, em coordenação com outras instâncias competentes do Estado, em especial os Ministérios da Educação e da Cultura. Até aqui, tudo é claro - o Camões pode ser cego mas vê bem de um olho.
A confusão começará quando se tenta responder a perguntas – perguntas incómodas para os decisores e para os cidadãos que, dentro e fora do País, exigem que o Instituto Camões seja tudo menos uma organização de mordomias a pretexto da cultura, uma prateleira do Estado para exercícios efémeros de poder, uma catedral de gente autoconvencida ainda razoavelmente influente, e um centro de permanente conspiração que é aquela que existe quando a acção cultural é contra a Cultura e portanto sem a gente da Cultura, sem os reconhecidos (dentro e fora do País) criadores de Cultura. Pode pois esperar-se tudo do Instituto Camões menos que ele seja apenas e quase só uma passarela do submundo da cultura, de queques da cultura e de toda a marginalidade que tenta invadir a Cultura ou que a invade mesmo por via dos interesses, dos horizontes e das conveniências da Política.
Continuaremos.
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