10 setembro 2004

Primeiras Perguntas sobre Diplomacia Cultural...

Jorge Couto respondeu à sua maneira e Maria José Stock não teve, por certo, nem tempo para responder nem circunstâncias propícias com MNE na polvorosa que se soube. Mas é este o momento exacto para perguntar a Simonetta Luz Afonso algumas coisas.

Simonetta assumiu a presidência do Instituto Camões rodeada de saudações gerais, nomeadamente daqui, das NV. Tais saudações justificavam-se em função do passado profissional de Simonetta e do seu desempenho em funções que contribuíram para a boa imagem externa do Estado Português no domínio da Cultura. É dos factos. Nomeada por Teresa Gouveia e reconfirmada por António Monteiro, esperava-se, todavia, que Simonetta já tivesse dito alguma coisa, mínima que fosse, em resposta a perguntas óbvias.

Assim, se o Instituto Camões assegura a orientação da política cultural externa, que orientação é essa?

E se lhe compete coordenar essa mesma política, como e com que meios coordena? E coordena mesmo?

Além disso, deve executar tal política, nomeadamente em matéria de difusão da língua. O que é que está a executar, como é que está a executar e o que pode executar?

Dizem muitos, que são bastantes, que não há hoje uma Política Cultural Externa.

Na verdade, há um enunciado – aquele que consta no Programa do Governo e serve de bordão a todos os nomeados – mas um enunciado é pouco. Uma Política significa a definição de prioridades, de alvos, de finalidades; significa a definição exacta de parcerias, de uma estratégia e, enfim, de uma Razão de Estado. Ora o Instituto Camões, pela voz de Simonetta, não tem uma Razão de Estado que se lhe veja no peito.

O silêncio de Simonetta, compreensível como se disse até certo momento, já não se compreende. Mais: além desse silêncio, incomoda que o Instituto Camões, independentemente e muito acima, como deve estar, da pressão política e da emulação dos partidos, não seja um centro de referência para os Criadores nacionais (de todos os domínios sem excepção), sobretudo envolvendo aqueles Criadores que por mérito próprio e reconhecimento interno e externo, representam o melhor que Portugal tem e pode mostrar com excelência e por excelência. É dos factos.

Sem esta envolvência permanente e não apenas suscitada em circunstâncias politicamente festivas, não há Política Cultural Externa possível. E não havendo Política, nem vale a pena falar de Orientação, muito menos de Coordenação e jamais valerá a pena falar de Execução.

Acções casuísticas? Podem ser algumas, bastantes ou até muitas, mas o Instituto Camões não é propriamente uma ONG.... Supomos que o mal de muitas presidências do Camões tenha sido, desde há muito, precisamente este: as presidências assumem o cargo com muita e declarada honra em função de invocadas Razões de Estado mas, mais mês menos mês, acabam por gerir o instituto como se fosse uma ONG, um quintal em que os beneméritos não se discutem nem permitem que sejam escrutinados.

Mas, claro, há muitas mais perguntas. Continuaremos.

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