25 setembro 2004

Toronto. O Telediário do OMNI News disse o suficiente.

Da nossa Inspectora Diplomática para os países da América do Norte, Ministra Plenipotenciária de 1.ª Classe, Crystinna Ayres de Azevedo do Carvalhal Pessanha e Távora:

Passo a transmitir:

Ontem, sexta-feira, às 17 horas locais de Toronto, o Telediário em língua portuguesa da estação OMNI News, apresentou uma peça de João Vicente e Clara Abreu, que foi correcta e bem explicada.

E assim, toda a comunidade ficou a saber que:

- o porta-voz da OPP (Ontario Provincial Police, um dos ramos da Royal Canadian Mounted Police) afirmou peremptoriamente que, convidado a sair do carro, mostrar os documentos e fazer o teste de alcoolémia, o diplomata Artur Magalhães recusou iradamente, invocando o seu estatuto de diplomata, a conversa engrossou, os agentes chamaram por oficiais superiores e, entretanto, tiraram-no do carro. Foi então que o diplomata português os agrediu, teve de ser dominado, levou voz de prisão e algemas. Chegou uma oficial que, muito sabida e calmamente, ouviu o aranzel todo, negociou com o diplomata português levantar o mandato de prisão contra o teste de alccolémia, e ele aceitou, após o que lhe mandou passar uma multa simbólica e lhe disse que seguisse caminho: "it´s over, you can go home". É aqui que entra a profunda ignorância e imprudência do diplomata: acreditar que, em vez de estar em Toronto, estava em Bissau ou, na melhor das hipóteses, na Reboleira sur Lisbonne e que, portanto, ficava tudo numa boa;

- A oficial da OPP, coadjuvada pelos agentes, consulta o Canadian Foreign Affairs e este responde secamente que, em casos destes, não há imunidade, diplomática ou outra, encarregando-se de comunicar ao embaixador português a situação e o desagrado (que é como quem diz, "o vosso homem é persona non grata");

- Silveira Carvalho, precisamente porque Toronto não é Bissau, não pode oferecer um cover up igual ao do passado. É encostado à parede pelo despautério do cônsul, vê-se obrigado a comunicar a Lisboa o enredo todo. O MNE, pelos vistos, percebeu que não havia nada a fazer senão remover o Magalhães;

- Entretanto, o diplomata Artur Magalhães, em vez de ter uma conversa directa com o seu superior hierárquico, prefere mostrar os arranhões que as algemas lhe deixaram nos pulsos à funcionária consular casada com o correspondente da Lusa, e pede segredo. A funcionária cala-se e vai passando informação unilateral ao marido, que sai hoje à rua, no semanário Sol Português, com uma prosa que um bom tapete teria escrito. Um nojo. A começar logo pelo título: MNE INSULTA COMUNIDADE PORTUGUESA;

- Quando recebe a guia de marcha do MNE, com indicação de data de embarque e de termo de honorários, em vez de falar com o de Otava, ou de calar-se, faz aquele bendito almoço de ontem, dentro do consulado, onde por grande acaso havia uns gandulos de clubes suspeitos de fazerem negociatas. A comida é portuguesa, gostosa e de farta-brutos, o champagne corre, e é aí que a mesma funcionária se mostra indignada com a injustiça e propõe que os colegas todos a ajudem a angariar assinaturas na comunidade para cartas de protesto a dirigir ao MNE, a delegada sindical Clara Santos (que tem uns episódios catitas com cônsules) avança que mete nisso o sindicato dos empregados consulares, há mais um ou dois que alinham, o diplomata anima-se, acha bem, desata a língua num lavar de roupa suja contra o MNE;

- Esfumados os vapores do champagne de ontem, hoje os funcionários do consulado começam a fazer marcha atrás, começam a ser interrogados por muitas pessoas da comunidade que os alertam para a inconsistência da versão do diplomata e, nesta altura do campeonato, já muito poucos o defendem. Porque, para além do mais, diz-se que o diplomata hostilizou sempre a parte sã da comunidade, ligando-se de alma, e cporação, talvez sem se aperceber, à parte das golpadas e das negociatas. Não há volta a dar a isto.

- Convidado hoje a pronunciar-se, o Embaixador Silveira de Carvalho declarou que não tinha comentários a fazer. Pois claro que não e por aí se percebe o apertão vexatório que deve ter levado do lado canadiano (como outrora levou o embaixador Navega, no tempo do Tânger Correia, quando o Foreign Affairs exigia saber algo que. O homem ficava sem fala. Caixas e caixas de bebidas a um restaurante português!!! Era um negócio da China).
Deus sabe o que haverá ainda por detrás de tudo isto.

Que inferno é esta diplomacia sem inspecções, sem preparação, sem nada.

Toronto tem tido um azar dos diabos.

Não imagina como o nome do Emabiaxador António Montenegro, agora na chefia da Missão Portuguesa no Senegal e que por Toronto passou como Cônsul-Geral, tem sido invocado, com saudade e respeito, desde ontem.

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