01 março 2005

António Monteiro. Uma grande cartada no final

Haja Deus! De vez em quando há coisas que nem o Quai d’Orsay tem, nem pode ter... É o caso da carta conjunta que a 17 de Fevereiro António Monteiro e o MNE egípcio Ahmed Aboul Gheit endereçaram à lista quase interminável dos chefes das diplomacia da UE e da África. O Palácio das Necessidades divulga apenas hoje, o teor exacto da missiva, não fosse o correio azul ou o centro de informática das Necessidades tecê-las... E então os Ministros Africanos! Se algum deles tomasse conhecimento da carta através de Notas Verbais antes de receber o envelope com as armas de Portugal douradas e em relevo, no mínimo lá teríamos mais uma série de endereços de correio electrónico bloqueados. Aquele Mugabe, então!

Brincadeiras à parte, António Monteiro provou o que é – puro diplomata. MNE de um governo demitido e no meio do fogo da guerra eleitoral, pois ele, impassível negociador, fez trabalho para o futuro, ou seja «para o próximo e passível MNE». Já conhecemos ministros nas Necessidades que, em função de comportamentos no passado assim nem tão pouco recente, sabendo previamente o que viria a confirmar-se três dias depois, não andariam longe do «quero lá saber, que trabalhe o próximo gajo que tem boca grande!» - sim, a linguagem era essa. Ou então que não deixasse o chão armadilhado.

Mas de que se trata? Da cimeira África Europa, matéria em que Jaime Gama e Luís Amado andaram enrolados antes de Martins da Cruz e Teresa Gouveia que enrolados andaram.

Pois Monteiro deixa o trabalho de casa limpinho e desenrolado para o próximo MNE que é um sortudo. A carta conjunta é uma grande cartada por ser carta, por ser conjunta e por propor um calendário dificilmente recusável: já em Junho próximo, algures na Europa, reunião dos dois continentes a nível de altos funcionários, em Janeiro de 2006, no Cairo, reunião mais graduada, a nível ministerial, para preparar a agenda da embruxada cimeira, e, finalmente, em 2006, a cimeira possivelmente já exorcizada de uns quantos diabos de África e outros tantos da Europa, realizar-se-á, imaginem, em Lisboa – o que não é novidade para ninguém mas não deixa de ser uma boa novidade para a incógnita do próximo MNE.

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