Nota Reversal.
1. – A reentrada de Freitas do Amaral para o MNE, 25 anos após a sua primeira e única experiência de um ano à frente das Necessidades, promete. Freitas do Amaral tem uma personalidade com força calculada e afirmou-a logo nos primeiros momentos em que o seu nome foi dado como confirmado no elenco governamental – só aceitou depois de saber quem eram os outros, congratulou-se pela bitola dos 50 por cento dos colegas serem professores universitários e fez questão em dizer que aceitou o cargo pelas mesmas palavras e profundas razões com que Mário Soares .apelou, sem êxito, a António Vitorino para ser ministro, ou seja, a inevitabilidade de «dar a cara».
2 – Certamente que, para as questões europeias – mais do que nunca complexas, no ponto de vista negocial – Freitas do Amaral vai contar ou terá de contar com um «bom» secretário de Estado que terá o ónus; para as questões da Casa (máquina e institutos autónomos) terá de contar com outro «bom» secretário de Estado, o qual será inevitavelmente numa primeira fase (até ao primeiro dia do próximo Presidente da República) mais protagonista do que todos os secretários de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação desde sempre até hoje; finalmente, para as Comunidades Portuguesas e para os difíceis temas consulares, também terá que contar com outro «bom» secretário de Estado disposto a fazer o trabalho de canalizador e que, naturalmente, «dê a cara». Numa primeira fase, à parte o discurso político geral com palavras calculadas, é muito provável que Freitas do Amaral se resguarde atrás do biombo multilateral e protocolar, espaço onde se movimenta melhor do que ninguém ou como poucos, aparentemente distanciado das «questiúnculas» de Estado mas interventor quantum satis em função da fase seguinte. Na verdade fala-se agora muito de um Bush-2 que não deixa de ser Bush, mas pelos mesmos critérios de seriação de rostos políticos dever-nos-emos habituar a um Freitas-4 ou talvez mesmo um Freitas-5 que não deixará de ser Freitas.
3 – O aguardado programa de Governo, na parte da Actividade Externa do Estado e da Acção Diplomática, que será já certamente da autoria de Freitas do Amaral ou, caso não seja, terá a sua inteira concordância, vai ser o primeiro instrumento válido para se aquilatar até que ponto a opção de Sócrates se coaduna com a confiança que recolheu do País. As Embaixadas e a Rede Consular carecem de reestruturação, de meios, de recursos e em alguns casos até de estatuto e dignidade; os institutos autónomos do MNE (Camões, IPAD e Comissão Nacional da UNESCO) como dizem os brasileiros «não decolam»; a política para a Lusofonia continua anémica, envergonhada, medrosa e com uma actividade suportada pelas máscaras da sociedade civil (chega-se ao ponto de se aceitar que a palavra lusofonia entre num índex); a diplomacia económica e a diplomacia comercial que hoje preenche 80 por cento da actividade das chancelarias de qualquer país desenvolvido, na prática não deu o salto porque não pode dar um salto por decreto ou por voluntarismos ministeriais; não há uma diplomacia dos direitos humanos; a diplomacia do mar anda no mar alto sem ter fundo… por aí fora. Aguardemos então o tal programa e, claro, aguardemos o primeiro dia de Freitas do Amaral no MNE que para muitos diplomatas e a generalidade dos funcionários das Necessidades será «o primeiro dia do resto das suas vidas» na carreira e no serviço. O ano de 2009 diz tudo e, até lá, o adiamento diplomático de Portugal, em um mês que seja, equivale a um adiamento de Portugal para a eternidade… na Europa e no Mundo.
Carlos Albino
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