Comunicado das Necessidades, em Notas Formais. «O Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, dando sequência a um apelo da família do cidadão Ivo Ferreira só ontem formulado, enviou hoje mesmo um apelo de clemência ao seu homólogo dos Emirados Árabes Unidos.»
A propósito do rapaz que se distraiu no Dubai (em pior situação estará o indiano), aí temos mais um singular caso de «diplomacia familiar» que já resultou num pedido de clemência formulado pelo ministro Freitas do Amaral – o que seria de esperar dele e da chancelaria, e que por certo teria maiores garantias de êxito se o procedimento se tivesse mantido discreto, mas não. O facto, esse sim, devia ter sido logo revelado mas quanto os procedimentos segundo e conforme… A «diplomacia familiar» forçou o segundo e a artificial pressão mediática determinou o conforme.
Para já, um e-mail que, um tanto crédula e até bondosamente, o embaixador em Riade (Silveira Borges) enviou à família foi transformado em espampanante bandeira mediática. Ficou-se a saber que a embaixada de Portugal na Arábia Saudita cujo chefe de missão está acreditado simultaneamente no Bahrein, no Quatar, no Yémen, no Estado de Oman e nos Emirados Árabes Unidos (em que o Dubai se integra), é na prática uma missão virtual. Ainda devido ao caso, é que ficou amplamente divulgado que o vice-cônsul que lá estava foi «compulsivamente afastado» - julgamos tratar-se de Eduardo Pereira de Sousa – não se sabendo as razões do afastamento nem desde quando… O lugar ficou vago como se uma embaixada que serve uma vastíssima área não precisasse de um vice-cônsul. Além disso, fica-se a saber que o secretário de embaixada foi nomeado para outro posto sem que a vaga tivesse sido também cautelosamente preenchida. Portanto, o embaixador ficou sozinho e se calhar a fazer de telefonista de si próprio.
E o que não se disse, por exemplo, é também o que certamente deixará insatisfeito o contribuinte português: o embaixador Silveira Borges, por causa do caso e apenas pelo caso, deslocou-se de Riade ao Dubai e nessa deslocação menos de dois mil contos não foram, porque foram – ir de Riade ao Dubai não é propriamente dar um salto à Amadora – podendo-se imaginar o gastadoiro do solitário e isolado embaixador se outros casos não surgirem no Bahrein, no Quatar, no Yémen, em Omam… Mais quatro casos, mais oito mil contos, em todo o caso, do contribuinte.
É claro que o rapaz do Dubai, tal como o companheiro indiano, ao entrar no país assinou uma declaração em que tomou conhecimento das regras do país sobre matérias que em nada têm a ver com instrumentos diplomáticos que devem preocupar o embaixador, com a actividade profissional do viajante, com as capacidades artísticas do turista e muito menos com os fundamentos da sempre possível e supletiva «diplomacia familiar».
O e-mail, os dois mil contos, o indiano, a vaga compulsiva do vice-cônsul, a falha condescendente de um diplomata na secção consular, o espectacular folhetim mediático sobre os efeitos sem as causas, por aí fora… Que caso! Depois da diplomacia económica, aí temos, portanto, a diplomacia familiar.
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