Briefing da Uma. «À minha volta, reprovava-se a mentira, mas fugia-se cuidadosamente da verdade...», constatava Simone de Beauvoir. E não se constata?
1 – El País!
2 – Freitas/Brasil
3 – Freitas/Angola
4 – Freitas/Ásia
1 – (NV publicam hoje, em destaque e em castelhano, uma frase da coluna de Juan Cruz publicada em El País… O senhor está dobrar o joelho a Madrid?) - «Esse destaque é para continuare para ser refrescado tanto quanto possível diariamente. A crónica intitulada ‘Mentira’, escrita por Juan Cruz assenta que nem uma luva no jornalismo português, em certo e determinado jornalismo português – precisamente aquele «jornalismo» que foi estimulado e fomentado pelo Paulo Portas enquanto esteve no poder. Os seus amigos bem posicionados em jornais de referência, para além de terem vendido a alma por pequenas ganhunças (a ganhunça teria que ser pequena porque as almas desses também nunca foram grandes) levaram às ùltimas consequências o que Juan Cruz denuncia na edição de El País de hoje, dia 12 de Maio. Diz Juan Cruz que «se dan la mano los periodistas y los políticos, en desayunos, almuerzos, meriendas e cenas, y la consecuencia es que cada vez más se parecen las mentiras de unos y de otros. Y el sistema que se ha puesto en marcha es una maquinaria terrible cuyo primer afectado es el periodismo tal como hubiéramos querido que fuera.»
(O que é que isso tem a ver com a Diplomacia Portuguesa, com a Política Externa e com as Razões de Estado?) - «Tudo. Tem a ver com tudo. A ‘cobertura’ da guerra do Iraque, por exemplo, foi em determinados jornais, executada à margem de quaisquer critérios jornalísticos e muitos editoriais chegaram a ser soprados, senão até ditados, directa ou indirectamente de gabinetes ministeriais. Outro exemplo, a política israelita chegou a ser veiculada em Portugal como nem os mais extremistas e radicais da direita judaica se atrevem em Israel. Disseram-se os maiores disparates sobre o Tribunal Penal Internacional, sobre o multilateralismo, sobre as Nações Unidas apenas para agradar os que, em Portugal, são mais bushistas que Bush, não por convicção mas apenas porque em Portugal a competição neurótica impera. Na verdade, quando o sistema mediático está entregue a neuróticos, a competição só pode ser neurótica. Também a máquina diplomática já esteve entregue a neuróticos, pelo que a competição nas Necessidades só poderia ter sido neurótica. Diplomacia e Jornalismo, como dizia e repetia o velho Gama, andam cada vez mais juntos.»
(E quais os sintomas do neurótico?) - «As dores de estômago… Há um ensaio de Karen Horney, The neurotic Personality of Our Time, que já tem algum tempo mas que descreve bem o fenómeno. Leiam-no.»
2 – (De Notas Verbais, nem uma palavra sobre a visita oficial de Freitas do Amaral ao Brasil. Foi neurose?) - «Ainda bem que os senhores não perdem o humor. Neste País, as palavras moralizadoras não funcionam – o humor e a ironia, além de prevenirem e mesmo erradicarem as dores de estômago, é que podem fazer tudo o que a moral não faz. Pois sobre Freitas no Brasil, temos que dizer: foi um êxito. O ministro não foi ao Brasil fazer turismo político. A diplomacia brasileira não foi apenas simpática, sentimental. E ao condecorarem Freitas do Amaral com a Grã-Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul, a mais alta insígnia que um estrangeiro pode ter, não se limitaram ao gesto simbólico ou ao simbolismo do gesto… Freitas foi recebido no Brasil e pelos brasileiros como grande personalidade de relevo. Não foi por acaso que o encontro com o Presidente Lula da Silva durou 45 minutos, com Severino Cavalcanti (presidente da Câmara dos Deputados e N.º 3 da hierarquia do Estado) durou 30 minutos, depois foi a reunião/almoço/conferência de imprensa com o Ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, e, depois na resid~encia do embaixador aocnteceu um ‘must’ muito raro: jantar com o Vice-Presidente da República, José Alencar (N.º 2 da hierarquia do Estado e responsável governamental pelo dossier Varig), com o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim (N.º 4 da hierarquia do Estado), com o ‘guru’ do Presidente Lula para a Política Externa que é Prof. Marco Aurélio Garcia, com o Reitor da Universidade de Brasília, com o homem-forte da Globo e ‘tutti quanti’... Mais: importante o encontro prolongado com os ‘opinion makers’ colunistas de tudo quanto importa na imprensa brasileira.»
(NV estiveram nesse encontro?) – «Não. Modestos pensadores pré-socráticos, por uma questão de moral, humor e ironia, além de não serem brasileiros – basta-lhes a Ásia Menor! – recusam a pretensão neurótica de ‘opinion makers’. Daí que não tenham dores de estômago.»
(Então o nosso Freitas esteve bem…) – «Esteve bem. Disse exactamente o que era preciso dizer - sobre a TAP, sobre os investimentos brasileiros em Portugal, sobre a questão dos centros de distribuição de produtos, sobre a Guiné e, em especial, sobre os brasileiros em Portugal . Batemos com os nós dos dedos em madeira enquanto vamos dizer o que se segue: Freitas do Amaral não precisa da aprender a postura de Estado, sabe estar com presidentes e ministros, não se intimida nem se empertiga, está suficientemente à vontade no lugar para saber ouvir e não gagueja em público, embora deva ainda ganhar alguma substância mais no discurso, que, no Brasil, lhe saiu um pouco genérico ou académico. Mas vai lá ! Foi uma agradável surpresa. Além disso, trata bem os colaboradores e é simpático à sua volta, o que repete o Monteiro e a Teresa e está muito distante do Aristóteles que estragou a filosofia grega e das mil ilhas do mar Egeu que, como sabem, compõem as Necessidades, a Diplomacia Portuguesa, a Política externa e as Razões de Estado.»
(E o dedo do Embaixador Seixas da Costa não andou atrás disso?) - «O dedo? Os senhores sabem que os bons embaixadores com que Portugal conta não têm apenas um dedo – têm dez dedos nas mãos e dez dedos nos pés! Vinte dedos! Aliás, voltando à frase do destaque, Juan Cruz apenas se esqueceu de dizer claramente que também os Jornalistas devem ter vinte dedos.»
(Mas e a situação nos Consulados-Gerais em São Paulo e no Rio, nos consulados que fecharam e noutros que não fecharam mas é como se estivessem fechados?) - «Sobre essa matéria, estamos em crer que Freitas sabe que os senhores sabem o que ele também sabe apontar a dedo. Ou muito nos enganamos ou a bagunça vai acabar. Tenham calma que o tempo das cunhas, com Freitas, terá passado. Batemos com os nós dos dedos na madeira.»
3 – (Brevemente, Freitas vai a Angola…) - «Sim, em Julho. Freitas visita Angola em Julho, quando ocorre a reunião ministerial da CPLP. O diálogo com os angolanos vai ser complicado.»
(Complicado?) - «É complicado. Sobre isso falaremos oportunamente para não estragarmos os relatos de Luanda que estão a ser comentados nas Necessidades, certamente com o dedo do embaixador Xavier Esteves.»
(Um ou vinte?) – «Um.»
(Diga-nos alguma coisa, só uma coisinha, precisamos de uma coisinha para manchete…) – «Desculpem, mas por agora não podemos adiantar mais nada. Falaremos oportunamente.»
(Assim, o senhor põe o Embaixador Xavier Esteves nervoso…) - «Nem uma palavra mais, diria até Aristóteles!»
(Pelo que sabemos Simonetta Luz Afonso está agora em Luanda. A que se deve?) - «Errado, isso é errado. Quem está em Luanda é a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima., seguindo para o Rio de Janeiro, no domingo. A presidente do Instituto Camões não a acompanha. E sobre isto é, por agora, também tudo.»
4 – (E Ásia? Freitas está a esquecer a Ásia?) - «estamos a verificar que os senhores o que precisam é de manchete, agora que já não temos cineastas no Dubai. Sobre a Ásia, podemos adiantar que Freitas do Amaral está a ponderar uma deslocação à Ásia, possivelmente em Outubro, para pôr os pontos nos iis nessa área, onde alguns pontos nos iis têm que ser colocados, designadamente no iis das palavras dignidade e dinamismo. A grande novidade, nessa deslocação, será a primeira visita de um MNE português a Hanói. O ministro tem grande prestígio no Vietname (capaital político ganho na ONU…) e Portugal está a passar ao lado desse país, tal como no Laos, no Burma e no Cambodja, nem sequer existindo comércio com essas paragens. Também não vai fazer turismo político. A visita a Hanói não vos serve para manchete?»
(E Japão, China, Filipnas e Tailândia?) - «Já querem saber demais. Mas sobre a Tailândia, é bem possível que Freitas do Amaral se queira informar com o Embaixador Mello Gouveia, o último diplomata português a deixar obra nesse país. Sim, Mello Gouveia, grande embaixador, com vinte dedos.»
(Mas assim, você está a deixar nervosos pelo menos cinco embaixadores…) – «Só fica nervoso nas mil ilhas do Mar Egeu quem quer e quem não sabe andar de barco, como diria o ministro plenipotenciário Tânger Corrêa. Boa tarde, meus senhores, o breefing terminou.»
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