11 maio 2005

Enfim, olhar para o Golfo. Males que vêm por bem…

O embaixador António Monteiro foi aos Emirados Árabes, passou pelo Egipto e, para além do episódio que o levou tão longe como enviado de Freitas do Amaral, fez o que nas Necessidades nunca se pensou a sério: abrir caminho de diálogo no Golfo onde Portugal tem uma representação virtual, sem desprimor para o embaixador Silveira Borges, acreditado em Riade e em mais seis países, sem um cêntimo para se movimentar e sem colaboradores com que possa traçar qualquer estratégia e delinear alguma táctica. De entre os Estados da UE, Portugal tem em Riade a representação menos significatica (até Malta conta com dois diplomatas!) sendo também a que em mais capitais representa o Estado, além de que o embaixador da Arábia Saudita recebe em abonos de representação um décimo do que o cônsul-geral em Sevilha mete ao bolso – o que só se aceita por paradoxalmente os interesses de Portugal em Abu Dhabi serem representados, imagine-se, pela Espanha, presumindo-se que o embaixador espanhol não mexeu uma palha!

Sabemos que Freitas do Amaral vai modificar a situação da Embaixada em Riade, situação que apenas se tornou visível pelo episódio. É mais um ponto, a juntar a outros preciosos pontos que o Ministro arrecada em poucos meses, convertendo-se na melhor surpresa deste governo e contrariando prognósticos e presságios (um deste presságios foi de NV, está retirado).

Mas voltemos a Monteiro. O ex-MNE até poderia ter ido ao Cairo e a Dubai e, resolvendo o essencial da missão como resolveu, respirar de alívio e fazer turismo diplomático. Não foi assim. Trabalhou, abriu portas, chegou à fala com quem a Portugal interessa em função do relacionamento com os Emirados, prepara um relatório para as Necessidades. Nos Emirados, António agora foi Monteiro, como noutras situações (OSCE, por exemplo) Seixas foi da Costa e Fernando (Luanda, também por exemplo…) foi Neves e jamais Esteves. Quando um diplomata é diplomata com sentido de Estado, faz bom trabalho em quaisquer condições e circunstâncias, não amanteiga as informações, não altera os dados, não salta por cima da fasquia da discrição, não hesita nas iniciativas de Estado e, sobretudo, não desperdiça «a Missão» - qualquer missão que seja em nome do Estado e paga pelo Estado. Por nem sempre assim acontecer, Portugal tem sido prejudicado por muita Diplomacia Trapalhona, por muita Diplomacia do Encómio e por muita Diplomacia da Manteiga.

Naturalmente que o episódio e respectivo desfecho não justificam, por si só, manchete provinciana de jornal como aconteceu, nem justificam cenários mediáticos apenas possíveis num País dominado pela «Cultura da Quinta» e eventualmente esmagado pelos pensamentos da ensaísta Lili Caneças que, com alguns ministros que já vimos passar pelas Necessidades, não custa a crer que até poderia ascender a embaixadora de boa vontade…

Se Freitas olhar a sério para o Golfo, fica de parabéns. Monteiro foi lá, viu e olhou a sério – está de parabéns. Episódios são episódios, questões de fundo são de fundo, quer se trate de Abu Dhabi quer se trate de Luanda onde Fernando foi Neves e não Esteves. Discrição mais discreta, não é possível por agora.

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