Todavia, apenas uns quantos, porque estamos em crer que esse lado negro depende apenas de uma minoria volta e meia influente ou sempre influente à meia-volta, acabam por perturbar o sonho, a vontade abnegada e o sentido de Estado da larga maioria de diplomatas, funcionários e quadros técnicos do MNE, tanto os que estão nos serviços centrais como os que deambulam nos serviços externos.
Temos obviamente grandes embaixadores que são e serão sempre bons seja qual for o ministro, a política ou o partido dominante; temos obviamente excelentes diplomatas, independentemente das respectivas «quedas» ou mesmo vínculos ditados pela legítima cidadania; temos obviamente zelosos funcionários e excelentes especialistas. Mas toda esta excelência e qualidade reunida não têm conseguido anular os efeitos da continuada falta de transparência, antes pelo contrário a excelência e a qualidade têm sido vitimadas e postergadas sem apelo nem agravo. Exactamente, sem apelo.
O curioso é que alguns expoentes dessa minoria trapalhona, sempre que connosco se cruzam, não hesitam em sabujar, no género: - Você diz coisas acertadas, você percebe da casa, você isto de fazer corar pelo elogio e você aquilo de fazer chegar à noção dos píncaros... Mas, segue-se sempre um conselheiral mas, eis que o principal é dito depois em tom de advertência ou de aviso intimidatório: - Se fosse a si, preocupava-me mais ou só com os grandes temas da política externa, as grandes questões da diplomacia e não com as coisas comezinhas da Casa... até para não se prejudicar». Imaginem!
Ora, neste Ponto Dois, devemos dizer que enquanto a Casa estiver entupida (é o termo) com tais coisas comezinhas que uma Procuradoria a sério e com presença constante e delegada na Casa consideraria relevantes preocupações de Estado, é impossível colocar no primeiro plano a política externa a acção diplomática, por maiores que sejam os temas e as questões. O Ministério dos Negócios Estrangeiros não é uma Universidade e muito menos é um departamento académico de alguma universidade em particular que se sinta no dever ou obrigação de proteger ao nível dos conceitos, das divagações ou mesmo das teses que entretêm o espírito nas nuvens.
A transparência é uma condição sine qua non e aqui é que bate o ponto. É a base do problema, o problema. Há muito que deveria ter sido concedido à Transparência o Passaporte Diplomático – pediu, mas não tem. É pena. A Transparência só consegue vistos temporários e conforme os países para onde Ela se dirige.
Carlos Albino
O Ponto Três será despachado amanhã com toda a naturalidade. Para sossego de alguns espíritos irrequietos, lá chegaremos aos casos concretos, a alguns grandes casos concretos que ilustram como alguns suspiros privados e espirros de intimidade legalmente protegida encheram de tuberculose imprescindíveis pulmões do Estado. Para bons entendedores, meia alegoria por enquanto basta.
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