29 abril 2006

Agapito, paternais conselhos. Métodos para Jorge Veludo...

A problemática. De rompante, Agapito:

- Meu caro! Essa gente turbulenta do Sindicato dos Trabalhadores Consulares e das Missões Diplomáticas anda a leste! Queixam-se eles de não serem recebidos, de os ouvirem a sério, dos seus insistentes pedidos não serem atendidos e de se arrastarem em promessas! Pois o que é que essa gente quer? Particularmente Jorge Veludo, esse terrível Jorge Veludo, o elemento mais temido pelos últimos cinco ministros, 14 secretários de Estado, creio até que pelos 24 últimos secretários-gerais! Ou Jorge Veludo não ande a atormentar as consciências das Necessidades desde 1863! Ouviu bem? 1863!

Embaixador, seja explícito...

- Também você não entende? Meu caro! Há uma receita fácil para o Jorge Veludo falar directamente com o Ministro, ser ouvido, ser atendido! Fácil, muito fácil, meu caro!

Acha que sim?

- Fácil, facílimo! Ele, Jorge Veludo, é que não sei se tem coragem! Mas tem dois, três métodos, qual deles mais eficaz, nem eu sei! Primo! Pois quer ele ser primeira página e abrir telejorais, luzir como motitivo central de conferências de imprensa e de 14 comunicados oficiais? Então ele, ou alguém por ele que ponha, não o caderno reivindicativo, mas uns charros na bagagem, se dirija ao Dubai e aí declare às autoridades dos Emiratos Árabes que é cineasta sindical! De certeza que as Necessidades destacarão um embaixador, qual um! Dois embaixadores! O de Riade outro especial para intercederem ao mais alto nível junto desse governo do Golfo para Jorge Veludo vir para Lisboa, na certeza que mal chegue à Portela será encaminhado para o Terceiro Andar e em carro oficial com escolta de honra! Tenho a certeza que que será recebido com antecipada comoção e lágrimas de marketing político!

Com certeza embaixador. Passemos a outro método mais fino.

- Segundo método? Ainda me pergunta? Isso nem parece ser seu! Secundo! Ele, Jorge Veludo que se disfarce de traficante de trabalhadores ilegais e vá para Navarra, com alguém da confiança a dar umas concertadas dicas à Guardia Civil! Limpinho! Vai ver que até o MNE divulga em comunicado oficial e para todo mundo desde Arganil ao Porto Santo, o número de telemóvel do cônsul em Bilbau, para apoio de Jorge Veludo! E o ministro até falará com ele de quarto em quarto de hora em linha especial mandada instalar por Henrique Granadeiro, com insistências do género – "senhor Jorge Veludo, fique descansado que abriremos concursos", ou "tenha calma que rectificaremos salários", e "esteja certo de que o MNE vai dar formação e condições de trabalho ao quadro externo", ou ainda "oh! homem, acabaremos certamente com essa triste experiência dos temporários".

E se esse seu método não resultar?

- Terceiro método, terceiro, meu caro! Esse de certeza é mais eficaz, muito mais eficaz! Tertio! Que o Jorge Veludo finja ser electricista ou mesmo informático chega, e dando nas vistas, repare bem!, dando nas vistas, que entre na Arábia Saudita agitando no ar um cheque do Citibank International PLC emitido a partir de Bruxelas pela nossa portuguesa Direcção-Geral do Tesouro, pois como sabe Portugal não possui bancos com visibilidade internacioal, tenha santa paciência Teixeira Pinto, e vai ver que as autoridades dos Emiratos Árabes perante esse cheque, ficarão rendidas ao cheque! Um cheque assim, veja:


E perante esse cheque que não é um estranho ponto da ciência diplomática, os sauditas imediatamente facultarão gabinete de luxo onde Jorge Veludo ficará o tempo que for preciso até que o próprio ministro, mesmo a partir de Sofia, lhe telefone e lhe garanta providenciar junto dos árabes e à luz do direito internacional, para que o caderno reivindicativo seja negociado em Lisboa e não na Arábia Saudita! E verá como Jorge Veludo regressará feito herói pelas televisões, verá como a imprensa portuguesa, a pretexto de humanizar a imagem do ministro, porá Jorge Veludo nos píncaros, dando ao ministro a certidão de saber negociar dignamente a problemática!


Dito isto, Agapito levantou o obelisco jubilado do enorme corpanzil sobre os tacões de sola, e, com aquele tac-tac-retrac dos sapatos 45, foi pelo corredor fora, notoriamente preferindo a chão de pedra polida ao tapete de ponto grosso que testemunha o corrupio em vésperas de promoções e colocações... tic-tac-retrac, presumindo-se que ao encontro de alguém da ASDP para descrever outros métodos que não revelou mas que, recta e patrioticamente, bem conhece.

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