05 abril 2006

Diplomacia euro-paralamentar... Desta vez não é gralha

Para lamentar. Eurodeputados de outras nacionalidades, logo aqui pelos de pé da porta, têm como alvo primeiro fazerem lobby pelo seu país, para o que se torna conveniente uma doseada discrição, calculada humildade e sobretudo bom senso - e quando toca a reunir (para obtenção de um cargo ou mesmo de dez euros), até os limites dos grupos políticos se diluem. Neste sentido, até é possível que, nesses países, à diplomacia pura se admita juntar uma diplomacia europarlamentar, sem gralhas. E entre nós, o que há a dizer dessa vintena que elegemos? Lobby? Lobby pelo país ou de cada um por si próprio?

Os nossos eurodeputados, uma boa parte deles, a avaliar pelo tom e pelo teor de declarações, comunicados e poses públicas, imaginam-se certamente majestades - majestades da política europeia para efeitos da nossa aldeia, majestades enviadas pela nossa aldeia para efeitos de estendal europeu (não me forçem a contar partes gagas).

As declarações que fazem, pelo tom e pelo conteúdo, seja por distracção que se perdoa seja por cultura deveras detestável, de que os tristes não se apercebem porque é intencionalmente destinada ao Ecos da Paróquia, parecem partir de majestades, espécies de presidentes da república em miniatura ou de ministros mal aproveitados pelo país ingrato... Ora isto não é diplomacia europarlamentar mas sim diplomacia europaralamentar, ou na inteira propriedade do termo, é uma diplomacia de gralhas.

  • Hoje, ainda agora mesmo, Capoulas Santos fez espalhar, a propósito da gripe das aves, a notícia redigida segundo a qual «o Deputado Capoulas Santos defendeu que a comparticipação financeira da UE nas acções a executar deverá ser de 100%, e não de 50% como a Comissão Europeia preconiza.» Pois se defendeu, foi ele o único a defender? Mais ninguém? 150% não seria mais eficaz para o comunicado? E se a proposta foi dele, não seria melhor guardar protagonismo para quando ou se tal proposta for aprovada? Para quê tanta ânsia?
  • Outro caso, de agora também, Jamila Madeira. Igualmente fez comunicado pelos nutridos meios de que dispõe para chegar à aldeia. A propósito de acordo obtido no âmbito das negociações das Perspectivas Financeiras da UE, a citada, citando-se a si própria, diz que «Jamila Madeira mostrou-se particularmente satisfeita com o reforço obtido para os programas LEONARDO e ERASMUS MUNDUS, bem como saúda o sinal muito positivo dado com a atenção que teve o Programa PROGRESS (que substituirá os Programas EQUAL e URBAN), a Cooperação Territorial e o 7º Programa Quadro para a Inovação.» Mas o que é aquele «particularmente satisfeita» e o que aquilo de uma eurodeputada entre mil dizer à aldeia que «saúda»? O que é que a aldeia tem a ver com a vida particular e com a satisfação? E não temos Sócrates, o parlamento nacional e se for necessário Cavaco, para saudar? Que presunção política é esta?
  • E como não há duas coisas sem três, eis que, a rematar, nos surge um terceiro comunicado que logo em título afirma que «Edite Estrela critica rejeição de propostas destinadas a lembrar vítimas do fascismo e de regimes ditatoriais na Europa». Edite critica, e depois? O seu grupo político não critica pelo que tem de ser ela a dar cara e nome na crítica da rejeição? Ou não será que a rejeição acaba por potenciar o protagonismo ou a ânsia de protagonismo na aldeia?
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