Os nossos eurodeputados, uma boa parte deles, a avaliar pelo tom e pelo teor de declarações, comunicados e poses públicas, imaginam-se certamente majestades - majestades da política europeia para efeitos da nossa aldeia, majestades enviadas pela nossa aldeia para efeitos de estendal europeu (não me forçem a contar partes gagas).
As declarações que fazem, pelo tom e pelo conteúdo, seja por distracção que se perdoa seja por cultura deveras detestável, de que os tristes não se apercebem porque é intencionalmente destinada ao Ecos da Paróquia, parecem partir de majestades, espécies de presidentes da república em miniatura ou de ministros mal aproveitados pelo país ingrato... Ora isto não é diplomacia europarlamentar mas sim diplomacia europaralamentar, ou na inteira propriedade do termo, é uma diplomacia de gralhas.
Hoje, ainda agora mesmo, Capoulas Santos fez espalhar, a propósito da gripe das aves, a notícia redigida segundo a qual «o Deputado Capoulas Santos defendeu que a comparticipação financeira da UE nas acções a executar deverá ser de 100%, e não de 50% como a Comissão Europeia preconiza.» Pois se defendeu, foi ele o único a defender? Mais ninguém? 150% não seria mais eficaz para o comunicado? E se a proposta foi dele, não seria melhor guardar protagonismo para quando ou se tal proposta for aprovada? Para quê tanta ânsia? Outro caso, de agora também, Jamila Madeira. Igualmente fez comunicado pelos nutridos meios de que dispõe para chegar à aldeia. A propósito de acordo obtido no âmbito das negociações das Perspectivas Financeiras da UE, a citada, citando-se a si própria, diz que «Jamila Madeira mostrou-se particularmente satisfeita com o reforço obtido para os programas LEONARDO e ERASMUS MUNDUS, bem como saúda o sinal muito positivo dado com a atenção que teve o Programa PROGRESS (que substituirá os Programas EQUAL e URBAN), a Cooperação Territorial e o 7º Programa Quadro para a Inovação.» Mas o que é aquele «particularmente satisfeita» e o que aquilo de uma eurodeputada entre mil dizer à aldeia que «saúda»? O que é que a aldeia tem a ver com a vida particular e com a satisfação? E não temos Sócrates, o parlamento nacional e se for necessário Cavaco, para saudar? Que presunção política é esta? E como não há duas coisas sem três, eis que, a rematar, nos surge um terceiro comunicado que logo em título afirma que «Edite Estrela critica rejeição de propostas destinadas a lembrar vítimas do fascismo e de regimes ditatoriais na Europa». Edite critica, e depois? O seu grupo político não critica pelo que tem de ser ela a dar cara e nome na crítica da rejeição? Ou não será que a rejeição acaba por potenciar o protagonismo ou a ânsia de protagonismo na aldeia?
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