Cultura democrática. Os trabalhadores dos serviços externos do MNE convocaram uma greve para dia 9, divulgaram os seus pontos de vista e, pelo que se leu, deixaram a claro questões em que os decisores do Palácio das Necessidades têm falhado em palavras e obras. Por sua vez, pala mão do próprio ministro, a resposta de quem devia ouvir e esgotar o diálogo até ao limite, não foi deveras convincente, antes pelo contrário foi uma resposta de surdo para quem fala e de mudo para quem ouve. O ministro, primeiro a si próprio, e, depois caso fosse necessário, ao sindicato devia ter perguntado - «Qual é o problema?». Quando a coisa passou para a opinião pública, o ministro devia ter mostrado como vê o problema, se há ou não problema no que os trabalhadores dizem ser problema. O que fez o ministro? Refugiou-se em formalidades, contornou o incómodo de quem o acusa de faltoso para a solução do problema, posicionou-se como se não existissem problemas e como se os motivos da greve ficassem esvaziados com formalidades – formalidades graves, diga-se, imputando aos trabalhadores o eventual «fracasso» do que designou por «habituais comemorações do Dia Nacional, enfraquecendo a credibilidade e o prestígio de Portugal em futuros contactos internacionais» e, mais ainda, sugerindo que a greve «pode consequentemente inviabilizar a eficaz prossecução de atribuições que consubstanciem necessidades essenciais a garantir pelo Estado no domínio da protecção dos seus cidadãos no estrangeiro».
Sabe muita gente que em anos anteriores sem greve, como é que o Dia Nacional tem sido comemorado em diversas embaixadas, havendo casos em que o Dia Nacional nem sequer foi comemorado em função de expedita e calculada ausência dos embaixadores como que em pose de greve... Sabe também muita gente que tal comemoração, na generalidade dos casos, não passa do cocktail e da diplomacia do cocktail, por vezes com uns folclores em que habitualmente se misturam mau senso e péssimo gosto. Contam-se pelos dedos os casos em que Embaixadas e Embaixadores, Consulados e Cônsules, organizam um Dia de Portugal a sério, credível e prestigiante, independentemente do futebol.
Mas, admitindo que neste ano de 2006, o Dia Nacional vai ser a sério em todas as Embaixadas e Consulados, não se vê como é que uma greve de um dia, ainda que na véspera do Dia a sério, possa prejudicar «gravemente» Portugal «em futuros contactos internacionais» quando são os trabalhadores a invocar que tal como estão, como vivem e como são tratados é que ou também se prejudica a credibilidade e prestígio do País, se inviabiliza as garantias de protecção dos cidadãos portugueses no estrangeiro e se converte em fracasso cada um dos 365 dias que são afinal os dias de Portugal, os dias mais legítimos de Portugal independentemente das formalidades, do cocktail e do futebol.
A não ser que, para o ministro, não haja problema e que os trabalhadores dos serviços externos estejam a inventar problemas supostamente fazendo uma greve contra o Dia de Portugal cuja comemoração mínima tem sido o que se sabe, fora umas quantas excepções que confirmam a regra segundo a qual um Dia de Portugal a sério, credível e prestigiante não depende de serviços mínimos, depende sobretudo de um Ministério com cultura democrática que dê e sobre para os restantes 364 dias do ano.
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