Uma PESC em águas turvas. A União Europeia, ou por via do Alto Representante para a PESC, ou por via da presidência finlandesa do Conselho, foi de facto ultrapassada pela iniciativa italiana, melhor, pela iniciativa de Romano Prodi da convocação da reunião internacional sobre o Líbano, em Roma. Naturalmente que a reunião se justifica e que a Itália é um elemento a ter em conta, sobretudo quando se trata de matéria a que não é alheia a não declarada disputa de hegemonia política do Mediterrâneo seja a que pretexto for, mesmo que os pretextos sejam os mais dramáticos como este, o do Líbano.
No entanto, o périplo de Solana pelo Médio Oriente deixava sugerida, no mínimo, uma iniciativa da UE ou da PESC, eventualmente de âmbito mais alargado que o da PESC como a conferência de Roma é, pelos convites de Prodi. Se as presidências da UE não são verbo de encher, como parece ser este exercício da Finlândia relativamente ao Médio Oriente, o Conselho deveria fazer mais do que ser arrastado para retratos de família (como vai ser), em que cinco estados membros posam como se o C de Comum da PESC fosse a letra morta da sigla ou letra de corpo presente.
França, Itália e Grécia (protagonistas do Mediterrâneo, estranhando-se a ausência da Espanha, porque não?) a que se junta por uma questão de peso a Alemanha e também a Turquia (outro directo interessado, a Grécia que o diga) surgem assim como «parceiros» da convidada UE (Comissão e Conselho) a que aqueles Estados, menos a Turquia, pertencem… Estados Unidos, Canadá e Rússia formam a sempre procurada ala de credibilidade e conveniência de onde Kofi Annan raramente está ausente (é convidado), enquanto o Egipto, a Arábia Saudita e o próprio Líbano (o primeiro ministro Siniora é esperado em Roma, a convite de Prodi) dão algum halo de presença árabe.
Mas, tratando-se do que se trata, falta Israel que deveria estar, a não ser que haja convite de última hora. Muito embora a finalidade inicial da conferência seja fundamentalmente económica (daí a presença do Banco Mundial e do FMI, senão até a justificação central da presença da UE como entidade potencialmente financiadora...) a reunião terá sem dúvida uma forte tonalidade política, apesar desta tonalidade não constar na ordem formal de trabalhos: para além das questões humanitárias urgentes, haverá discussão sobre as condições políticas de um cessar-fogo e sobre que tipo de força internacional de interposição deverá ser destacada para o Líbano, em que quadro e sob que mandato, além da questão das medidas coercivas visando o desarmamento do Hezbolat que a UE e Rússia não incluem nas respectivas listas das organizações terroristas.
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