A viagem de Moratinos ao encontro de Obiang (esteve com Amado, nas vésperas, não se sabe se falou do assunto, ao menos por cortesia, não consta) não pode ser obviamente interpretada como receio de que a Guiné-Equatorial, não falando, passe a falar português pela incontornável pujança política da CPLP, ou com o receio de que, tendo a ex-colónia esquecido bastante castelhano, não queira voltar a colocar o til sobre o n. Tem a ver com o petróleo – a Guiné Equatorial, pelas estimativas, produzirá em 2008 meio milhão de barris/dia (está presentemente na linha dos 400 mil barris/dia).
E antes que fosse tarde, ou que os empresários que compõem o círculo político de Obiang viessem a Lisboa rendidos a Manuel Pinho, fossem a Brasília, ou, pela via natural das coisas, se entendessem com Luanda, Moratinos antecipou-se e quer ver Obiang e os seus empresários, rapidamente em Madrid, de preferência um Obiang já ibero-americano e não tão lusófono como chegou a parecer, mas que não será, porquanto, desde Julho até agora, não consta ter havido qualquer iniciativa política ou diplomática para que à fama de membro associado, corresponda o proveito refinado. Mas também, diga-se, no plano interno, a Guiné Equatorial (poder e a oposição possível) desconheceu soberanamente a honra que compreensivelmente lhe soube a pouco em Bissau e que está longe do estatuto de membro de pleno direito.
Sintomático, portanto, nesta aproximação de conveniência entre Moratinos e Obiang em matéria de democracia e direitos humanos, que o governo de Madrid tenha retirado a condição de refugiado político a Severo Moto, líder da oposição ao regime de Malabo e cuja extradição Obiang reclama, ainda que neste domínio não vigore qualquer acordo com a Espanha.
Foi Fernando Pó que descobriu a Ilha de Bioko 1471), onde está a capital da Guiné Equatorial, Malabo. Portugal controlou Bioko e uma porção do continente, por mais de 300 anos até que vendeu o território a Espanha a troco de direitos na América do Sul.
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