21 outubro 2006

Luanda às prestações. Três, no caso de vistos e algo mais

Sem ilustração. Porque a coisa é séria. Desde o incidente da estranha substituição, inexplicada até hoje, do Cônsul Geral em Luanda, e que provocou enervamento, contradições e incongruências por parte do gabinete do anterior MNE, com procedimentos que seriam alvo de reparo, embora discreto, da própria Associação dos Diplomatas, NV têm recebido inúmera correspondência, geralmente anónima como se suporá, sobre o problema, aliás, o Problema. Problema com que o cônsul exonerado - exonerado "por razões políticas" segundo o porta-voz de então -, se confrontou com irrepreensível dignidade, verdade e lealdade – era-lhe anterior, surpreendeu-o. Ao que sabemos não pactuou, e pelos dados que temos, foi isso; se não foi, corrijam, mas não nos venham com as "razões políticas".

Todavia, no meio dessa correspondência sem aproveitamento possível ou justificável, há três mensagens de proveniência identificada - ou as evidências muito nos iludem - que, no teor directo e útil, não podemos deixar de transcrever em prestações, porque são susceptíveis de conter elementos de alerta. Sobre esta questão de Luanda, não temos que nos pronunciar nem interferir até que a investigação esteja completada, os dados apurados e a Justiça tire a venda dos olhos, mas não gostaríamos que uma Democracia comportasse procedimentos ou comportamentos que só fora dela têm acolhimento, mesmo que ocorram a milhares de quilómetros à distância da pessoa territorial do Estado. Então aí, há o dever de alerta. Dever cívico.

  • Primeira prestação, mais remota. Por e-mail de 12 de Outubro, NV receberam isto, assinado por Adolfo, que não é Adolfo a avaliar o remetente:

    «Não sei bem o que Vexa ou Vossa Senhoria, ou como quer que se deva tratar o signatário das NV entende pelo "resto". Também não sei o que entende por "conversa". Não que tenha pessoalmente alguma coisa contra restos ou conversas. Mas julgo lembrar-me de um certo frenesim de há uns meses atrás. A crise em Luanda pululava por toda a parte. Ele era exonerações, comissões de serviço, promessas de apoio político, medidas radicais, spring cleaning, um atarefanço total, com o Primeiro Ministro à porta... Afinal parece que não... Foi só conversa?»

  • Segunda prestação, ontem. Por e-mail, assinado por M.J. que é mesmo M.J., isto:

    «Na escaldante questão dos vistos em Luanda só terá sido apurada a ponta do iceberg. Terá havido negociatas em grande escala e envolvendo bastante gente, parecendo haver uma omertá * à custa de ameaças de morte a quem pôde apurar coisas nas investigações então realizadas. NV parecem agora estranhamente desconhecer em absoluto o evoluir do(s) processo(s).»

  • Terceira prestação, hoje. Por e-mail, assinado por E. que também não é E. mas o que lá veio onde tinha que vir, isto:

    «Vejam bem o caso de Luanda – há nove pessoas indiciadas, mas outros conseguiram ficar de fora: advertência de represálias, intimidações… a quem sabe».

  • * A omertá é uma atitude popular, comum em áreas da Itália em que a máfia é forte, que implica ou obriga nunca colaborar com a polícia. Pode ser entendido como um voto de silêncio entre mafiosos.

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