22 novembro 2006

Burla que agitou a diplomacia. Pelo BID, sem ponta de maldade

Grandes destaques
  • Pentágono defende reforço militar no Iraque
  • José Veiga suspeito de burla de 3,3 milhões de euros

  • GRANDE alarme o estimadíssimo BID ontem lançou por embaixadas e consulados afora. Com os seus «grandes destaques», de enormíssima utilidade para os diplomatas, cuja ignorância nata em abrir os jornais digitais da pátria impõe-lhes a necessidade escravizante de aguardar pelo BID. E então os destaques! Os destaques onde eles aguardam, como pão-nosso entalado em Padre Nosso, pela expressão quotidiana da máxima força da política externa portuguesa, da nossa política europeia ou da nossa diplomacia! Uma coisa de Luís Amado, algo de Cavaco Silva, uma decisão de António Braga, enfim, um qualquer talento a render como autonomia na política ibérica, mas que seja uma coisa, ainda que, exumada da cova de uma breve de jornal, ressuscite no BID como destaque. Todos os dias há coisas destas, enterradas. Ora, ontem, o que é que o BID destacou para o globo? Duas coisas. Uma, de extrema utilidade, mas de duvidoso proveito, para o isoladíssimo embaixador em Bagdad, Falcão Machado: «Pentágono defende reforço militar no Iraque». Claro que os jornais portugueses bem fizeram em noticiar para as escuras domésticas que o Pentágono defende isso, embora se duvide que o Pentágono defenda mais ou menos e não volte atrás, só porque os jornais portugueses disseram o que os jornais de todo o mundo, incluindo os de Bagdad, disseram antes talvez melhor e não traduzido, pelo que nem a Falcão Machado adiantou grande coisa. Mas a outra coisa, a do grande e segundo destaque, é que semeou intriga, bastante falar baixo e aos cantos: «José Veiga suspeito de burla de 3,3 milhões de euros», e, com isto, um murro naquele estômago que está junto à boa consciência dos diplomatas a quem a BID, pela honra do seu próprio genitivo, se destina. Terá sido uma boa dúzia de embaixadores a telefonar para o Ministério, perguntando se esse José Veiga é chefe de missão, encarregado de posto consular ou, nunca se sabe, algum funcionário manhoso a agir escondido num armário de pau-preto das Necessidades. Ao mesmo tempo, diplomatas subalternos terão com rebuliço cruzado e-mails e telefonemas entre postos, cada um perguntando ao outro - «Pá! Trabalha aí algum José Veiga?». A safra em nada resultou porque havendo Veigas nenhum é José, possuindo todos felizmente nomes honestos, e além disso, os emolumentos, obras em embaixadas e outros esquemas, se poderiam sugerir remota e eventualmente algum impulso da Inspecção Diplomática, nunca apontariam para suspeita de burla em 3,3 milhões de euros. É verdade que não foi difícil, um a um ir percebendo que o destaque do Boletim de Informação Diplomática por extenso, nada tinha a ver com a política externa e a com a diplomacia portuguesa também extenso. Mas eis que, alguém da Associação de Cônjuges complicou a intriga suscitada pelo BID, quando, com uma ponta de maldade, deixou cair aquele comentário apenas possível de voz representativa saída de olhos notificados: «Se calhar, o BID referiu-se a um embaixador de boa vontade…» Nunca o futebol fora tão longe em diplomacia! O que o BID arranjou.

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