24 novembro 2006

Cimeira com Espanha. Silêncio oficial inacreditável

Sobre o dia da cimeira luso-espanhola, não se sabe com rigor o que é que vai ser tratado, quais os problemas pendentes e, havendo-os, que soluções Portugal vai apresentar para negociação. Os que andam nisto, sabem obviamente que há problemas sobre os quais se evita falar como se fossem segredo de Estado, ou como se, dados a conhecer, fragilizassem a posição portuguesa. Longe de se sugerir que se ponha na praça pública os dados, os planos e as alternativas de negociação que no interesse do Estado devem ficar a resguardo. Mas o essencial devia ser conhecido, e não habilmente ladeado. Gabinete do Primeiro Ministro e MNE primaram pelo silêncio oficial, descontando os anúncios voluntaristas de que a cimeira tem como tema central a presidência da UE, de que a cooperação científica é outro tema, que a imigração outro é, que a participação das autonomias espanholas vai dar fotografia, e mais um ou outro item que podia ser falado até com o Rei de Marrocos ou mesmo com o Presidente da Mauritânia.

Mas para isto, justifica-se uma cimeira, que não é propriamente uma festa de casamento? É claro que, outra tradição destas cimeiras, nas vésperas distribuem-se dicas – uma dica para aqui sobre o MIBEL, outra para ali sobre a refinaria, sem se saber se é coisa que parte do Governo ou mera interpretação de agentes intermediários embora não inócuos. E para se compreender alguma coisa é necessário, como se costuma dizer, andar aos papéis.

Naturalmente que uma agenda de política externa não é um horário de almoços, reuniões e intervalos, coisa a que os comunicados oficiais nos habituaram a identificar como cultura de comunicado oficial. Desde a primeira cimeira até à última, a de hoje e amanhã poderá ser excepção milagrosa ou expressão de generosidade espanhola na expressão de Mariano Gago que, com desculpas para Galileu, parece não ter visto que não é a Terra mas a Espanha que gira à volta do Sol, desde sempre que a diplomacia de Madrid gosta e quer ganhar em todos os tabuleiros e quando cedeu foi para preparar um salto de cavalo a surpreender peões, torre e bispo, arrumando o assunto. Foi, entre outros assuntos, o assunto do TGV como poderá ser, entre outros, o assunto da ligação a Sines e o que poderá vir com os transvases que não são coisa para o século XXII.

Não somos dos que pensam que apenas há cimeira com interesse político quando há "guerra". Nada disso. O que não se aceita é que uma cimeira se assemelhe àquele casal harmonioso para efeitos de imagem pública, mas deveras casal desavindo e em vivência litigiosa sobre o risco do divórcio que pisa nas discussões ocultadas - ou seja, em comum, o casal, apenas têm os problemas...

Fiquemos por aqui e observemos, porque Portugal tem sido generoso em ocultações.

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