04 dezembro 2006

Bramão Ramos, Margarida Figueiredo. Tomaram posse. Oficialmente, nada do MNE

Orgânica Nova. Hábitos antigos. O Director-geral de Política Externa, Vasco Bramão Ramos, e a Directora-geral dos Assuntos Técnicos e Económicos, Margarida Figueiredo, tomaram hoje posse nas Necessidades. Bramão Ramos, pelo que NV sabem, fez um excelente discurso sem papel (lá daremos conta disso). Deploravelmente o MNE fez silêncio sobre um acto desta grandeza – silêncio oficial, entenda-se – certamente confiado nas caixas de ressonância em que a comunicação social portuguesa se converteu, como se estas suprissem por si só aquilo que é dever e obrigação do Estado, não só perante os cidadãos, mas também face às chancelarias acreditadas em Lisboa e que não são poucas.

Com continuados procedimentos desta natureza por parte do MNE ou da sua máquina, quanto a actos importantes das Necessidades, e a posições oficiais sobre temas internacionais, certamente sem querer (estamos longe de pensar que o ministro Luís Amado tenha dado instruções para silenciar…), vai-se assim apoucando a diplomacia e a política externa portuguesa, reduzindo-a aos horários de partida do ministro para aqui ou para acoli e, de quando em vez, a alguma viagem de secretário de Estado mais zeloso por algum protagonismo internacional pífio, que sendo viagem normal de Lineu se propagandeia como acto de excepção diplomaciosa a que pouca gente liga. Diplomaciosa, é a palavra.

Ora, pela nova cartilha, caberá a Bramão Ramos assegurar a coordenação e decisão dos assuntos de natureza político-diplomática, incluindo a Política Externa e de Segurança Comum (PESC) e a Política Europeia de Segurança e Defesa (PESD), bem como dos assuntos no domínio da segurança e defesa, e executar a política externa portuguesa no plano das relações bilaterais e no plano multilateral de carácter político. Portanto, não é um responsável qualquer. É um alto responsável.

E caberá a Margarida Figueiredo dar efectividade e continuidade à acção do MNE no plano internacional bilateral e multilateral no que respeita a todos os assuntos de carácter económico, científico e técnico. Também isto não é uma coisa qualquer e sem importância que o MNE não tivesse a obrigação de relevar e pela via oficial. Uma coisa é a discrição – coisa boa desde que seja a negação do barulho populista dos antecessores de Amado – , outra coisa é a lassidão, o deixar andar e a falta de atenção e respeito do poder público que é erva daninha de qualquer quintal.

Nada disto tem a ver com o que confiadamente a Lusa ainda hoje canonicamente narre, o Público amanhã registe na coluna direita, o DN faça info-eco, ou o Correio da Manhã destaque apesar de a posse de um novo DGPE não seja o assassinato do anterior, não há sangue. E claro também que um acto deste género não é uma romaria, nem uma festa e muito menos um derby que faça as delícias de um público cada vez mais embrutecido pela overdose de ecrã das delícias, mas é um acto que, secundarizando-se o simbolismo, tem a carga de inegáveis razões de Estado.

É que será Bramão Ramos quem irá normalmente receber, e eventualmente chamar os embaixadores acreditados em Lisboa, oxalá que sempre por bons motivos, e passará por Margarida Figueiredo o impulso a dossiers em que Portugal se revela efectivamente atrasado, quer interna quer externamente. O acto que hoje decorreu nas Necessidades não justificava obviamente ter-se chamado a Banda da Armada do Alfeite, mas também não se entende que tenha sido tratado como qualquer coisa a toque de caixa.

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