31 janeiro 2007

A China, como se vê. Pouco de substantivo, no plano político-diplomático

Medo Continental. O diálogo politico-diplomático de Portugal com a China devia estar num patamar muito superior ao que revela, não ficando refém de acordos pontuais e em larga medida dependentes de condições terceiras, como o que envolve o acordo assinado entre a Moat-Engil e o Nan Kwong Group para a plataforma do Poceirão. Aliás, este acordo faz recordar um outro do mesmo tipo e objectivos que a Índia e Portugal concertaram no plano instrumental mas que Portugal não concretizou por pressões de países da União Europeia – sempre a hegemonia do porto de Amesterdão em causa e o susto de alguns comunitários parceiros por Portugal poder ganhar asa comercial e económica. Lisboa vergou-se então a tais pressões inacreditáveis, e, pior do que faltar à palavra, deixou cair a palavra. E aqui está a importância do patamar político-diplomático que, no caso da Índia, Portugal nunca elevou ao grau conveniente, com visão e vontade estratégica, julgando que a consciência obtém ressarcimento com lirismos históricos e polémicas tumulares em torno de Afonso de Albuquerque. O que é que uma coisa tem a ver com a outra?

É sintomático que, por exemplo, Quartin Santos chegue a Pequim e repita o mesmo que todos os seus antecessores traçando essa grande e principal prioridade de «Portugal ganhar visibilidade na China». Seria mais importante indagar porque é que não a ganhou ainda, identificar o problema e dar-lhe solução eficaz, coerente. Não basta declarar declarações que já foram declaradas até à exaustão declarativa. Se, algum dia, os embaixadores que passaram por Pequim tivessem sido convocados por Amado, numa jornada de reflexão sobre as relações luso-chinesas e o rumo que elas devem levar, por certo o problema viria ao de cima com autoridade profissional e não apenas política e as soluções abundariam para se escolher uma, a melhor, a de patamar diplomático qualitativamente mais elevado e com garantias de eficácia política.

Mas para além da agenda ter sido mal pensada, a viagem de Sócrates não sugere que tenha havido esse trabalho, acontecendo o que, fora da viagem, poderia ter acontecido. O esquecimento da Ásia por LA, no seminário de reflexão do MNE, foi disso sinal, por certo involuntário mas sintomático. Já é tempo de Portugal perder o medo continental que a Espanha lhe infunde em benefício próprio, e que as hegemonias marítimas da UE impõem com poses que reduzem a política externa comum ao pecado do hipócrita.

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