Briefing. «Nem sempre sou da minha opinião» – só por esta tirada que lhe pertence, Paul Valéry merecia ter tido maioria absoluta em Portugal.
1 – Declaração prévia
2 – Diplomatas e reestruturação consular
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2 – (Os diplomatas, de modo geral, apoiam ou contestam o plano de reestruturação?) – Podemos avançar que os comentários dos diplomatas são deveras demolidores. Não encontramos outra palavra.
(E que argumentação é invocada pelos diplomatas?) – Primeiro, pensam os diplomatas que não se vislumbra a razoabilidade de equacionar uma reestruturação da rede consular à revelia da também anunciada reestruturação da rede das missões diplomáticas.
(Apenas isso?) – Não. Os diplomatas advertem que não se encontram minimamente demonstrados os pressupostos que informam o projecto de reestruturação, nomeadamente a nível de aperfeiçoamento organizativo, de inovação informática e tecnológica, de redução de custos de funcionamento e da sua eventual projecção na eficácia das serviços.
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(O que querem dizer com isso?) – Querem dizer que uma reestruturação pensada apenas em função e tão só do número de portugueses residentes, portugueses inscritos, número de actos consulares, número de funcionários, número de associações portuguesas na área e número de professores de português, parte de um critério penalizador dos interesses a defender e, sobretudo, desconsidera as valências que um consulado moderno deveria assumir.
(Mas há consulados que são praticamente sinecuras de diplomatas!) – É verdade, isso está mal, e o Estado não pode ver os consulados como os beneficiários de sinecuras os vêem. A não ser que o Estado Português entre também em sinecura, porque em sinecuras, felizmente, estamos à cabeça da Europa – podemos garantir isto, com todo o orgulho, aos chineses.
(O senhor está a resvalar. Mas não é a poupança que está na ordem do dia?) – É verdade. Também nesse ponto, os diplomatas comentam que é singelamente que na reestruturação proposta, se assinala permitir uma poupança de 3.645.424 de euros. No entanto, não entendem os diplomatas que não se aluda aos cerca de 6.500.000 euros que diariamente os emigrantes remetam para Portugal. Além disso, que por recurso a critérios tão só contabilísticos, sejam acriticamente ignoradas as diferentes políticas que o Estado prossegue, designadamente a política externa e a política de apoio às comunidades e de projecção no estrangeiro.
(Mas então o que é que os homens queriam que fosse feito?) – Homens? Que linguagem é essa? Muitos diplomatas são mulheres!
(Desculpe, é a pressa. Desculpe.) – Bem! Os diplomatas desejam que numa reestruturação da rede consular pensada em simultâneo com uma reestruturação da rede de missões diplomáticas, fossem tidos em conta os critérios da dimensão ou perfil político do posto, da dimensão ou perfil económico do posto, da dimensão cultural do posto, e da dimensão de representação diplomática do posto, concreta ou simbólica, do ponto de vista das relevantes autoridades locais ou das comunidades portuguesas expatriadas. E isso não foi levado em conta.
(Culpa de António Braga ou, como de costume, de quem rodeia?) – Não fazemos especulações. Naturalmente que o secretário de Estado António Braga está muito a tempo de estancar especulações e de conciliar firmeza com diálogo, emendando os critérios com que normalmente se inundam as secretárias do poder nas Necessidades. É o que os diplomatas comentam, embora, um a um deles, salvo excepções de opito em oito, digam que nem sempre são da opinião que têm…
(E as críticas que, segundo o senhor nos diz, são demolidoras, ficam por aí?) – Não. Os diplomatas, também de forma clara, dizem que é inaceitável a proposta de desgraduação de alguns dos actuais postos consulares e de carreira. E argumentam que o que se economizaria em termos orçamentais seria certamente superado pelos custos negativos para a imagem e eficácia da acção externa do Estado português.
(O senhor está a sugerir então, ser esta mais uma matéria que o Presidente Cavaco Silva vai seguir com atenção…) – Perguntem isso, por favor, a Belém que, de resto, não é, e oxalá que não venha a ser, mais um Consulado-Geral .
(Com certeza! Os diplomatas são demolidores. Mas e de positivo? Essa gente só destrói? Não apresenta soluções construtivas?) – Muito obrigado por ter levantado essa questão, que é muito importante…
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(Sim, senhor! Resuma tudo numa palavra porque tenho que telefonar já ao chefe que quer saber se isto dá manchete) – Resumindo e concluindo, os diplomatas advertem que um consulado é muito mais que uma loja do cidadão. Muito mais! E menos que isso, é péssimo. É tudo por hoje, sabendo que os senhores, em função do novo Estatuto do Jornalista, nem sempre são ou quase nunca são da vossa própria opinião.
(Novas gargalhadas do correspondente da RTL)
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