Sabia-se, corria com fundamento e NV por diversas vezes deixaram sugerida a surpresa que, contrariamente à saga do diálogo UE/África e a tudo se fazer para um bom comportamento na matéria lacunar do Tratado Europeu, seria uma iniciativa portuguesa, politica e diplomaticamente autónoma no quadro da presidência, para a concretização de uma cimeira UE/Brasil da qual saia uma parceria estratégica aprofundada. Isto sim, salvará o semestre do rame-rame. E tudo o que vier por acréscimo – África e tratado ou semi-tratado - para além do que, por rotina, está agendado com a Índia e Rússia, - apenas reforçará a imagem de obra que Portugal poderá deixar perante os seus parceiros europeus, para cujo convívio, aliás, Portugal entrou com a fama de ponte para o gigante sul-americano.
Seixas da Costa acaba de romper, agora, algum segredo compreensivelmente feito sobre esse projecto político, numa entrevista à Rede Bandeirantes de Televisão, atribuindo “85 por cento de hipótese” para o êxito da iniciativa, o que diplomaticamente significa que os dados mais importantes estão lançados entre as partes.
Na verdade, olhar para a América Latina num quadro de Mercosul equivalerá a entrar-se por atalhos semelhantes aos que com África tem resultado, com alguns estados africanos, fundamentais para o caso, a imporem ou a perpetuarem omissões de agenda, porque se a Europa mesmo que disfarçadamente aceitar as omissões, a cimeira realizar-se-á, por certo, mas restando dela pouco mais do que o retrato de família.
O Brasil tem todo o interesse, todo, em obter um estatuto de parceria estratégica até agora apenas atribuído pela União Europeia aos EUA, Canadá, China, Rússia, Japão e Índia, sendo manifestamente uma marginalização desproporcionada e um preço injustificado o ficar preso pelas rédeas difusas do Mercosul e pelo prolongado impasse entre o bloco europeu e o bloco sul-americano.
Portugal não só pode como deve executar um trabalho facilitador que já estaria facilitado à partida, e a Europa tem uma oportunidade que é uma oportunidade imperdível para contar com um parceiro estratégico de peso na cena global. Os ganhos, para ambos os lados, compensarão as cedências recíprocas e que, além de reciprocamente lesarem pouco, a prazo forçarão o diálogo EU/Mercosul a rumo definido.
Mais do que preconiza a canção, o Brasil não irá ser um imenso Portugal, mas uma imensa Europa. Que a Europa veja e perceba isto, como o Brasil, presume-se, foi o primeiro a entender.
Carlos Albino
Diplomacia portuguesa. Questões da política externa. Razões de estado. Motivos de relações internacionais.
18 abril 2007
┌ Ponto↔Crítico┐ 6 Provavelmente salva a Presidência
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