25 outubro 2007

Sala da Bênção. Ponto alto de Putin em Portugal

Com certeza, oh amigo Charles Calixto, ministro plenipotenciário, não lhe retiramos a categoria. Por hoje, pouco haverá a dizer sobre Putin em Portugal para a sua última cimeira com a Europa - última se, entretanto, não houver reforma constitucional na Rússia, e, em nova legitimidade, Putin não continuar nas cimeiras na qualidade de primeiro-ministro... Nunca se sabe, sendo isso previsível - a notável experiência de Timor pode ser útil a Moscovo. Mas, por hoje, haverá pouco a dizer, de novo e de importante, que não seja publicidade institucional, à excepção de um pormenor.

Esse pormenor, que só desatentos não consideram já o ponto alto da visita continuando a ser pormenor, é precisamente o que está programado para as 14:30, em Mafra.

É que diplomaticamente, Portugal tem sofrido de um trauma irreparável, trauma que decorre da conformação nacional em meter o Rossio na Rua da Betesga. Ora, nessas 14:30, Putin abre a exposição que expurga definitivamente isso de Rossio e de Betesga, preenchendo o vazio desse lugar traumático com “A Rússia na Biblioteca do Real Paço de Mafra”. Além disso, o fenómeno vai acontecer na Sala da Bênção! Que melhor local para mais um êxito político-diplomático?

De facto, o "meter a Rússia na biblioteca de Mafra", dá-nos um gigantesco prestígio perante a Europa e o mundo, onde até agora temos tido apenas a fama do passe de mágica de subverter as escalas do Rossio e da Betesga - o que já não é para todos, como se viu no tratado, pese a Vital Moreira.

Com toda a autoridade que se lhe suporta, a partir de amanhã, José Sócrates pode argumentar perante qualçquer dos seus colegas europeus que lhe peça o impossível, não o velho, caduco e desacredidado truque do Rossio na Betesga, mas assim:
«Meu caro! O que me pede é o mesmo que meter a Rússia na biblioteca de Mafra!». Gordon Brown, por exemplo, que se atreva.

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