27 fevereiro 2008

Briefing Programa Manuel Pinho

Briefing. «Apenas na Europe's West Coast e no Allgarve é que se pode colocar Europa Central e Europa do Leste no mesmo mapa, além de só aí se tomar a Índia pela Betesga e Vasco da Gama pelo Rossio» – frisou Manuel VII Paleólogo© , no país que em matéria de notícias da inovação só frisa e amiúde.
1 – Dureza e burburinho
2 – Programa Vasco da Gama
3 – O Leste que é Centro
4 – Kit cívico


1 – (Notas Verbais foram de grande dureza para Sua Excelência o Senhor Ministro Manuel Pinho na questão do Programa Vasco da Gama.) – Isso é uma pergunta ou uma resposta?

(Trata-se apenas de uma observação e se quer que lhe diga de um reparo.) – Com certeza! Mas já agora que jornal, rádio, agência ou televisão a senhora representa neste briefing?

(Bem... sim... na verdade não sou jornalista...) – E está aqui? Pode dizer o que faz?

(Sou assessora de imagem de um ministério...) – Nem precisa de dizer que ministério, nem quem a mandou. Por favor abandone a sala. Aqui não são admitidos assessores nem assessoras. Desculpe mas é assim.

(Burburinho na saída à saída que acabou por ser compulsiva, e retoma da sessão)

(Como é que o senhor percebeu que não era jornalista?) – Então não se viu logo com tanta excelência e tanto senhor? Não sabe que em Portugal os jornalistas mesmo que nunca tenham estudado uma linha de direito tratam o presidente do Tribunal Constitucional quase tu cá tu lá?

(Essa agora é forte. Há mal nisso?) – Há tanto mal nisso como naquilo. Se faz favor, vovê! Tem precedência. Se faz favor...)

2 - (Gostaria de saber bem essa história do Programa Vasco da Gama anunciado por Pinho.) – Com certeza, mas nem tanto ao mar nem tanto à terra. Em vez de Pinho, pelo menos diga Manuel Pinho, custa-lhe?

(Desculpe.) – Respeitinho, pois. Posso dizer-lhe que o ministro dos Negócios com o Estrangeiro, Manuel Pinho, como foi já divulgado, com efeitos reportados ao dia 20, lançou a 25, novo programa dedicado à formação no exterior para gestores de pequenas e médias empresas que tenham até 35 anos. O programa chama-se Vasco da Gama e segundo Manuel Pinho é uma «espécie de Inov Contacto para gestores». Foi divulgado também que os interessados em participar neste programa têm que ter mais de três anos de experiência profissional e dominar pelo menos uma língua estrangeira.

(Porquê esse dia 25 com efeitos a 20?) – Compreenda! É que entre 20 e 25, muita gente poderia completar 35 anos, e num programa desses cinco dias contam muito. Mas continuando, e continuamos a reproduzir o que foi divulgado, o Vasco da Gama tem como intuito proporcionar aos gestores portugueses a possibilidade de conhecer outra realidade, que não a portuguesa.

3 - (Mas isso é bom! Qual é o problema?) – A ideia desse programa, que está longe de ser uma genuína ideia portuguesa, é coisa normal em muitos estados com estratégia consolidada na acção económica externa, é boa, mas não posso esconder que por entre observadores bem colocados e nos meios diplomáticos capazes de tratar por tu-cá tu-lá o presidente do Constitucional, muito se estranhou que tivesse sido anunciado que, assim mesmo, a Europa do Leste, a China e a Índia vão ser os países de eleição do Vasco da Gama, tal como referiu o portal da AICEP.

(Estranhou-se porquê?) – Estranhou-se que Portugal e responsáveis portugueses mais uma vez chamem Europa de Leste à área que os países visados querem que seja politicamente recentrada na Europa Central e nisso insistem, insistindo-se em Portugal na asneira. Ou seja, a estranheza está em que para uma boa ideia mesmo que não seja de inovação, a aplicação é feita a leste.

(Mas referiu-se também a quem lamentou...) – Sim, lamentou-se que, para além da China, seja a Índia um país de eleição para o programa com o nome de Vasco da Gama, sabendo-se que Vasco da Gama tem sinónimos e antónimos. Para China tanto fará que seja Vasco da Gama ou Pizarro (dado o casamento turístico em regime de comunhão de adquiridos com a Espanha, os cartazes nupciais sempre são mais à borla) mas para a Índia é preciso mesmo desconhecer que há por lá dicionário de antónimos, com polémicas sem sentido e até campanhas acintosas recentes. Um ministro que se empenha em nome da modernidade na promoção da Europe's West Coast e do Allgarve, teria mais por onde escolher do que este Vasco da Gama para a Índia... Essa ideia da Europe’s West Coast foi descrita como, início de citação, a assinatura da nova campanha de promoção do país que pretende alterar a percepção externa da imagem de Portugal, posicionando-o como o País moderno, inovador e empreendedor que já é na realidade, fim de citação. O Vasco da Gama é o regresso às naus e caravelas e para indianos, é a assinatura de fantasmas sem proveito. Nós de Vasco da Gama retemos o seu caminho para a Índia, mas há muitos indianos, e por entre eles bastantes que por delicadeza cultural o não dizem, que retêm apenas o seu caminho por terra.

(Será um pouco como que criar para Angola um Programa Emancipação do Enclave de Cabinda?) – Não digo tanto, mas equivalerá a escolher para o Kosovo um Programa Tratado de Simulanco ou para Marrocos um Programa Infante Santo.

(Essa do Allgarve também não foi lá grande inovação, foi cópia...) – Sobre isso, Isabel Pires de Lima que explique pois já está em naquele descanso que permite explicar. Já quanto a este Programa Vasco da Gama, além do nome ser um antípoda da Europe's West Coast também não é inédito no nome, além de que indicia haver gente que quando se quer servir da história apenas acerta em pesadelos. Um bom sonho na História como sem dúvida Vasco da Gama representa ou simboliza, pode equivaler a um pesadelo na Economia – história é conversa, economia é cognac.

(Explique essa.) – Há oito anos, exactamente em 2000, foi esse o nome do programa criado pelo Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos. Esse outro Programa Vasco da Gama surgiu com o objectivo principal de promover e potenciar a mobilidade de estudantes entre escolas nacionais do Ensino Superior Politécnicos. Para politécnicos até teria a sua piada na era dos kits cívicos, mas para a economia não é por aí que se descobre o caminho da inovação para a Índia.

(Está a ser de grande dureza para Manuel Pinho...) – O senhor é jornalista ou pretende dizer que quer ser meu assessor?

(Seu assessor? Nem pensar!!! Vou sair da sala e da sala!) - Como queira, isto é um briefing e não uma sessão do Prós e Contras.

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