II Acto
Apensa ao processo contra Rosário Poidimani, está uma carta do embaixador de Portugal em Roma, Vasco Valente, dirigida em 6 de Maio de 2005 ao embaixador Paolo Pucci di Benisichi, então Capo del Cerimoniale Diplomatico della Repubblica (chefe do protocolo do estado italiano), entretanto já substituído. A carta, que não é novidade - já por aí está divulgada na net e em exposições feitas chegar pelo acusado a altos responsáveis portugueses - começa por se referir à já aqui descrita Nota Verbal entregue à chancelaria italiana, aparentemente visa reforçar a argumentação aí contida. O que é que, em matéria de factos e de direitos, as autoridades italianas apuraram, é o que está em causa nos tribunais de Busto Arsizio e de Vicenza.
Por ora, publica-se a carta a seco, seguir-se-á comentário.
Por ora, publica-se a carta a seco, seguir-se-á comentário.
"Caro Paolo,
Envio-te uma cópia de uma Nota Verbal que hoje fiz com que fosse enviada ao Cerimonial, e que esta Embaixada, no seguimento da constante repetição dos acontecimentos lamentáveis denunciados pelos cidadãos italianos, directamente envolvidos, e também tendo em consideração as inúmeras circunstâncias verificadas nos últimos anos e, no mínimo suspeitas de ilegalidade, sentiu-se na obrigação de expor ao seu Ministério, pedindo-lhe a rápida intervenção. Para além da situação a que a Nota Verbal faz expressa referência:
- provável aliciamento de empreendedores italianos, que, tanto quanto consta, teriam denunciado directamente o sucedido, porém sem nunca mencionarem nomes, nem dados concretos, com receio de eventuais represálias, o que é preocupante, e - a posse, e exibição de passaporte de titularidade de um inexistente “Cônsul Geral de Portugal”, em Gallarate.
E, ainda que não saiba se os acontecimentos estão relacionados, acredito que seja de utilidade fazer uma chamada de atenção para os seguintes elementos, que são a base de motivação das sérias preocupações desta Embaixada, e que talvez possam ajudar a melhor compreender a situação. De facto, desde há alguns anos, que um cidadão italiano, Rosario Poidimani, se tem vindo a proclamar herdeiro do trono de Portugal, e condecora-se com títulos de nobreza, um dos quais, entre outros, o de Duque de Bragança, Príncipe de Saxe Coburgo de Bragança, D.Rosário I, e por aí adiante. Como poderás verificar, trata-se de uma colecção variada, e ridícula de falsos títulos, que o mesmo terá adquirido a uma cidadã italiana, que se intitulava D. Maria Pia de Bragança, a qual se declarava como sendo filha natural do penúltimo monarca português, o Rei D.Carlos I.
Mas a actividade deste personagem não se limita a isto ou nem mesmo ao fazer-se passar por titular de qualquer título pseudo-nobre. Sobre este, para além de provas de actividades existentes desde os anos 80, em especial em Roma, Sicília, e também em Vicenza, foram dados a conhecer, a esta Embaixada, recentes episódios preocupantes, como também de teor legal algo duvidoso.
- A existência, assinalada em Vicenza, de um chamado “Museu da Casa Real de Portugal”, que estaria a construir a sua própria credibilidade solicitando aos artistas plásticos o envio de obras para que fossem expostas na colecção exigindo, pelo menos num caso, um montante de dinheiro para a inclusão da obra no catálogo do Museu – montante para reencaminhar a uma “representação diplomática da Casa Real de Portugal, em Vicenza”. - A criação de um site na Internet - “the Royal House of Portugal”.
- Ainda mais recentemente, Rosario Poidimani, desta vez sob o título de Presidente do Instituto Internacional para as Relações Diplomáticas de Vicenza, apareceu como sendo um dos organizadores de um Congresso Internacional dos Representantes dos Tribunais de Contas do Mediterrâneo, realizado em Palermo. - Por fim, Rosario Poidimani, também estaria envolvido na venda de títulos de nobreza portugueses, que na realidade jamais existiram, a algumas pessoas italianas, que posteriormente se lamentaram verbalmente à Embaixada.
Em todo o caso, creio que concordarás comigo em julgar que a situação assinalada na Nota da Embaixada, exige a intervenção das Autoridades competentes italianas e é exactamente neste sentido, que confio no teu interesse pelo assunto. Como também compreenderás, não vejo de que modo alguém possa, para além de se empossar do estatuto de Chefe da Casa Real Portuguesa, auto intitular-se impunemente como Cônsul de Portugal, e titular de um Consulado que não existe, nem que possa invocar o nome da República Portuguesa para promover actividades que além do mais parecem ser de duvidosas no que respeita à sua legalidade, como mencionado pelas vítimas.
De acordo com o entendimento do meu governo, é necessária a intervenção rápida por parte das autoridades italianas, o qual não tem qualquer dúvida que a sua preocupação seja partilhada por ambas as partes, por razões de legalidade, e à luz das excelentes relações que unem os nossos países.
Perdoa-me por te ter feito perder tempo, mas pareceu-me indispensável dirigir-me a ti, não só para facultar uma informação no meu papel devida às Autoridades Italianas, como também para solicitar ao embaixador, amigo e influente, que intervenha de maneira a que sejam efectuadas as devidas verificações, e que sejam tomadas as medidas que o caso exige.
Desde já agradeço-te. Um abraço,
Vasco Valente"
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