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Cavaco
Bento XVI
João Marcelino
Duarte Pio
Cavaco
Bento XVI
João Marcelino
Duarte Pio
PELO QUE SE LÊ E OUVE Mensagem do presidente - Percebeu-se bem. Mensagem do presidente ao País que as televisões não conseguiram sincronizar, e nem constava na agenda oficial de Belém - Cavaco foi bem percebido. As mensagens presidenciais em vésperas de eleições tornaram-se numa tradição, mas desta vez até passou despercebida a falta de anúncio, talvez pela habituação ao silêncio de Cavaco entretanto criada. Muitos foram colhidos de surpresa e bastantes perceberam a ênfase de Cavaco na lembrança de que «do primeiro ao último dia do meu mandato serei sempre Presidente de todos os Portugueses», ou, também na lógica política, a definição não deva ser mais clara que o definido.
- 5 de Outubro. Houve entre os partidos um acordo de distanciamento que não implicava o presidente da República, mas Cavaco, ao decidir que não discursará no 5 de Outubro por causa das autárquicas, dá sinal de que duvida da sua própria imparcialidade e de que se isenta como garante da imparcialidade. O que é que autárquicas têm a ver com algum dos 457 temas que o presidente da República poderia abordar no 5 de Outubro? O presidente foi eleito para falar, não foi eleito para estar calado, e deve estar preparado para falar nas circunstâncias mais melindrosas, como não é o caso do 5 de Outubro - não há propriamente crise de regime e também não há crise de sistema, pois a crise que uns temem, outros desejam e os restantes atraiem pouco ou nada tem a ver com o regime e muito pouco com o sistema, pelo que até se imporia uma palavra presidencial. Palavra pedagógica, sábia e inspiradora de confiança. O presidente acaba assim por legitimar muito silêncio de embaixadores portugueses que, por esse mundo fora, se calam precisamente quando pelas funções deviam falar, e que no 5 de Outubro ficam mudos por serem monárquicos, que no Dia de Portugal ficam surdos por saudades de outro sistema e que, por redobradas razões, vão no 25 de Abril dar um passeio como se o estado tivesse os seus ordenados em atraso.
- Bento XVI O papa efectua agora a sua 13.ª viagem apostólica e que mais não é uma «visita pastoral» à República Checa. É claro que foi recebido em Praga pelo presidente checo Václav Klaus e pela lógica da visita também pelo arcebispo de Praga, cardeal Miloslav Vlk, e pelo presidente da Conferência Episcopal checa, o arcebispo Jan Graubner. O papa tem toda a legitimidade para fazer as visitas pastorais que entender desde que possa e os anfitriões não levantem obstáculos embora normalmente até desejem. Mas visita de estado é uma coisa e visita pastoral, outra.
Ora, a propósito da anunciada visita do papa a Portugal, bastante gente escreveu para NV, e alguns dos correspondentes criticaram-nos por não termos alinhado na onda de reparos segundo os quais Cavaco terá provocado mais um caso irritando a organização católica em Portugal, por tricas de quem devia anunciar primeiro ou ao mesmo tempo, como se Deus tivesse tal pecado em conta.
A questão é de lana caprina: trata-se de uma visita com duas partes – primeira, visita de estado com programa oficial»; segunda, visita privada, de carácter particular, turística, pastoral, como o papa queira e goste, e que pela lógica de Fátima e pelo pretexto de 13 de Maio é pastoral. Não se compreenderia que o papa, em Maio viesse a Portugal, para passear num barco rabelo no Rio Douro.
Nenhum reparo a fazer ao procedimento da Presidência da República, pelo que algumas vozes da igreja identificaram como pecado o que nem Deus tem em conta.
Fundamentalmente, a presidência disse- Que Bento XVI «efectuará uma Visita a Portugal no próximo ano, em resposta ao convite que lhe foi endereçado pelo Presidente da República», e não por outra entidade
- Que «Para lá do programa oficial» Bento XVI deslocar-se-á «ao Santuário Mariano de Fátima, onde presidirá às cerimónias religiosas de 13 de Maio»
- Que «o conteúdo e o momento» do anúncio da visita «foram acordados entre a Presidência da República e o Vaticano, através da Embaixada de Portugal junto da Santa Sé»
Não há nenhum pecado, assunto encerrado. - João Narcelino Inteiramente de acordo com o que João Marcelino escreve em editorial do Diário de Notícias. Apenas um reparo: ao que João Marcelino chama «código deontológico», o documento é apenas um Carta Ética, que se aceita e com a qual se concorda inteiramente mas não é código regulamentar. Um código deontológico conteria, por exemplo, a regulamentação dos deveres recíprocos entre jornalistas e também das condições de exercício dos direitos dos jornalistas a fontes de informação. Pequeno reparo face ao mais importante e no que é mais importante, João Marcelino tem plena razão.
- Duarte Pio. Há umas semanas, Duarte Pio afirmou estar iminente uma ditadura em Portugal - ficou por aqui, e também não o obrigou a explicar-se. Pouco depois, no rescaldo da bandeira monárquica na Câmara Muncipal de Lisboa declarou tratar-se de uma manisfestão legítima. Ontem, a propósito desta história entre Belém e S. Bento, que até nem se sabe que história deveras é, Duarte Pio apareceu na televisão a garantir que histórias destas são impossíveis nas monarquias... Ora histórias piores do que estas abundam nas monarquias do Círculo da Europa (com reais serviços secretos a fazerem das tripas coração para as abafar), e muito piores histórias nas monarquias do Círculo de Fora da Europa são mais que muitas, algumas tendo realmente estendido o tapete aos piores dos fundamentalismos islâmicos, para não se referir o resto... Duarte Pio bem pode em Israel dizer que descende de David como disse, e junto dos árabes garantir que descende de Maomé como garantiu, mas não tem jeito para historiador de crises institucionais.
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