06 dezembro 2009

BRIEFING " Comenda e pensamento

"
Pois as nuvens
que correm de Portugal para Espanha
e de Espanha para Portugal
são "ibéricas"
desde que chova


EDUARDO LOURENÇO Comenda de Espanha - Pensamentos em Portugal. Na embaixada de Espanha, à margem da sessão de entrega da Comenda da Ordem do Mérito Civil, outorgada pelo rei Juan Carlos, Eduardo Lourenço produziu declarações sobre os dois lados. Matéria para este briefing. Meras observações.


  1. (Eduardo Lourenço diz: “Agora, que estamos no contexto da Europa, Portugal e Espanha têm um destino ainda mais comum”. Alguma coisa a comentar?) -  É claro que Eduardo Lourenço tem toda a razão mas, no contexto da Europa, o destino de Portugal é tão comum com Espanha como com qualquer um dos restantes 25 estados membros e num plano de igualdade, embora com matizes. E por matizes, o destino comum de Portugal com o Reino Unido e com a França, Itália e Alemanha depois, não pode nem deve ser saldado, ou mesmo entrar em falência, pelas matizes com Espanha. Há por alguma confusão entre destino comum e destino partilhado.

  2. (Confessa Eduardo Lourenço: “Só aos 40 anos me apercebi de que parte do meu vocabulário era leonês, ainda que falado à portuguesa”, e que na sua região natal (São Pedro de Rio Seco, concelho de Almeida, distrito da Guarda), “a fronteira é simbólica, não há nada que fisicamente separe os dois países”) - Pois bem! Ter-se apercebido disso aos 40 anos, foi um bocado tarde. Quanto ao vocabulário leonês falado à portuguesa, há que perguntar a opinião dos galegos e sobre a fronteira simbólica, todas as fronteiras do mundo são na verdade simbólicas sendo o símbolo, como Eduardo Lourenço sabe melhor que ninguém, pouco mais do que aquilo que leva ao reconhecimento de algo que lhe corresponde, é contíguo e se ajusta. Aí há que perguntar às nuvens que pairam fisicamente sobre diferentes países – olhando para tais nuvens, nem simbolicamente há fronteiras. Só que não podemos ficar a olhar apenas para as nuvens.

  3. (Eduardo Lourenço testemunhou de que com o estudo de grandes figuras da cultura espanhola, “vi um outro lado de nós próprios”. Também comenta isso?) - Com certeza que comentamos. Primeira observação, desconhece-se se algum pensador espanhol é capaz de dizer que ao estudar grande figuras da cultura portuguesa também verá um outro lado dos espanhóis – seria uma retribuição deferente, se convicta. Segunda observação, o estudo das grandes figuras espanholas não esgota o nosso outro lado. As figuras francesas também dão contributo, as inglesas igualmente, as italianas com certeza, as alemãs fornecem bastantes esboços, e, bem vistas a coisas, até as figuras marroquinas a tender para os árabes de que maneira! Basta ver o dia-a-dia do nosso outro lado.

  4. (Eduardo Lourenço referiu ainda que “o iberismo não precisa de ser uma ideologia, como foi em certo momento no século XIX, pois nessa altura os portugueses perceberam que isso queria dizer uma nova forma de subordinação”...) - A subordinação tem sempre novas formas, é como a mutação de um vírus difícil de identificar na hora. Já agora, o contexto da Europa fez-se para impedir tal vírus e respectivas mutações, o que é válido para os 27 de agora no seu todo e não apenas para dois do mesmo género que tenham resolvido casar com comunhão de adquiridos e tendo em comum problemas.

  5. (O embaixador espanhol Alberto Navarro, recordou a existência de um prémio com o nome de Eduardo Lourenço e que tal prémio “é ibérico” pois resulta de uma parceria das universidades de Coimbra e de Salamanca.) - Meu caro, quanto a isso repitmos: as nuvens sobre dois países não se disputam. São nuvens, andam para cá e para lá e nos momentos de seca, ambos os lados desejam que chova. Portanto, o embaixador Alberto Navarro é livre de dizer que tais nuvens são nuvens ibéricas. Não há mal nisso, desde que chova e resolva o problema da água nos rios internacionais. Mas não se pode ficar a olhar só para as nuvens…

Sem comentários: