20 agosto 2010

Gritam sempre a mesma receita

CARTA DO CANADÁ

Fernanda Leitão

A GRITARIA


Quanto maior a dificuldade, ou mesmo o drama, maior tem de ser a serenidade para se encontrarem soluções. Quanto mais complicada a situação em que nos encontramos, mais necessário se torna partilhar com os que nos rodeiam para que a união de esforços conduza às soluções que urgem. Todos sabemos que serenidade e solidariedade são indispensáveis nos momento maus das pessoas, das famílias, dos países. Por isso é tão chocante o que se está a passar em Portugal.

Se um membro do governo adianta uma sugestão, ninguém tem o bom senso e o decoro de, calmamente, lhe pedir que explique o seu pensamento, pormenorize a sua hipótese de solução, discutindo-a depois com imparcialidade, com boa educação, com razão prática e acima de tudo com desejo de servir o país. Se é um cidadão de um partido a adiantar uma solução, ninguém o leva a sério e lhe liga importância. Se é um cidadão independente a aventar um outro rumo, fecham-lhe a porta na cara. Em qualquer caso reduzem tudo ao insulto e à chicana. Portugal, aflito e ensopado em problemas, que se trame. Em Portugal ninguém pensa, todos preferem pensar nos seus próprios interesses, sejam eles eleitorais, partidários, carreiristas, financeiros ou outros. Atingiu-se o escalão máximo do egoísmo e da irresponsabilidade. Cada um julga-se detentor da verdade, cada grupo sente-se dono de uma coutada chamada Portugal.

É esta a imagem que todos eles passam todos os dias, a imagem que salta do ecran televisivo para milhões de portugueses a viver no estrangeiro. A viverem em países onde as coisas não se passam assim, o que aumenta a sua vergonha e desconforto. E depois têm o desplante de vir cá fora pedir votos em troca de promessas vazias como balões de feira... E depois admiram-se muito que a taxa de abstenção no eleitorado emigrante seja de mais de 90 por cento... Calhando, qualquer dia até se admiram de os emigrantes deixarem de enviar dinheiro ou de comprarem propriedades em Portugal... Porque admirados da impaciência agastada da União Europeia, já se mostram... Quando estão cercados, pelas chamas dos incêndios ou pelas espadas da falência, gritam sempre a mesma receita: se são da esquerda radical, querem pôr grilhetas aos empresários e aos ricos em geral; se são da direita radical, querem chicote sobre os pobres. Rotulam-se a si mesmos de casta intocável e dona da terra. A desgraça do país é esta gente, e nada mais do que esta gente sem tino, sem educação, sem respeito por nada, sem a menor noção do que seja a democracia. O que se compreende: uns devem tudo ao estalinismo, outros são os legítimos herdeiros da ditadura que durou 48 anos.

Sem comentários: