20 janeiro 2011

PONTO CRÍTICO 30 : Curiosa transparência, intrigante omissão

Felizes,
se, no dia a dia,
a Transparency International
ao não referir coisas de Portugal,
fosse um bom sinal

    A TRANSPARENCY INTERNATIONAL, respeitadíssimo observatório mundial do que tanto preocupa os humanos que têm olhos de ver, difunde diariamente matérias reveladas pela imprensa das diversas capitais precisamente sobre isso que tem nome – corrupção.
    Temos notado que de Portugal, nada. Quem em Paris, Washington, Pequim ou Jacarta segue as observações da Transparency International julgará, pois, que em Portugal nada tem havido a dizer sobre isso, nem sequer um BPNzinho ou um submarinozito, como se o país estivesse na face oculta da Lua. Hoje (19) por exemplo, a Transparency International reporta matérias da Tunísia, da Costa Rica, do Burundi, da Alemanha, de Israel, do Quénia, da Nicarágua, da Rússia, da Índia, do Reino Unido e do Vietname – nada reportando de Portugal, sobre Portugal ou que polemize Portugal (designadamente as eleições presidenciais), embora quem tenha olhos de ver e ouvidos de ouvir, saiba o muito que se publicou anteontem, ontem e hoje e não deseje acordar amanhã com mais alguma novidade que abale ainda mais a consciência de quem é probo e pelos visto anda nas nuvens.
    Esta omissão da Transparency International – omissão que vem de longe – poderia ser apenas uma omissão curiosa, todavia é intrigante.
    Quando a Transparency International não tinha qualquer antena em Portugal, enfim, sempre se desculpava a omissão periférica sobre periféricas corrupções deste país periférico. Pois, se estamos na periferia em tudo, porque não haveríamos de ser periféricos também na corrupção, coisa que tantos por aqui desejam que todos pensemos que é só coisa dos outros, da Costa Rica ao Vietname? Da falta de antena da Transparency International em Portugal aqui, em NV, se deu conta por diversas vezes ao longo dos anos.
    Mas agora há antena e antena reconhecida pela organização mundial, antena essa que é uma associação cívica precisamente com o nome de Transparência e Integridade, com sede na Avenida Professor Aníbal de Bettencourt, número 9, código postal 1600-189 que é código de Lisboa e código nada periférico, pois o endereço é o mesmíssimo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa que não é uma associação cívica mas instituição universitária pública consagrada à investigação e à formação avançada em ciências sociais, portanto, à qual não fica mal dar acolhimento a uma associação cívica do género.
    Então para quê esta antena? Reporta e a Transparency International não acolhe? Não reporta porque o Público, o Diário de Notícias, o Correio da Manhã, o Jornal de Notícias, o I, o Expresso, o Sol, por aí fora, não chegam à Avenida Professor Aníbal de Bettencourt, ou, se chegam são devolvidos ao remetente com a indicação de endereço desconhecido?
    Não se desconhece que a Transparência e Integridade lusitana tem dado conta dos relatórios anuais da global Transparency International, e que tem divulgado a posição que Portugal vai ocupando no ranking anual, mas este é trabalho vindo de lá, portanto trabalho que chega cá ao endereço estatal e cívico. O que se questiona é se há ou não trabalho de casa que chegue lá. Muito folgaríamos se, sobre corrupção, não houvesse trabalho de casa a fazer e se a posição de Portugal no ranking anual fosse uma demonização sem fundamento. Infelizmente não é, e nada adianta meter a cabeça na areia.
    Carlos Albino

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