Pelos vistos não foi suficiente a clara descrição de que se trata de um personagem criado por Eça de Queirós em Os Maias, romance publicado, pela primeira vez em forma de livro, em Junho de 1888... Ficção pura, portanto. E tanto é assim que a Finlândia apenas teve o seu primeiro diplomata acreditado em Lisboa, em 1920, e até 1945 todos os seus representantes o foram a partir do representante residente em Madrid, e nem por sombras nas cocheiras alugadas por Afonso da Maia, como a imaginação de Eça situou nos finais do século XIX.
Lá por isso, refira-se que a embaixada da Finlândia colocou no seu site oficial a relação dos representantes de Helsínquia na capital portuguesa, em quadro que se reproduz, onde obviamente não se encontra nem se poderia encontrar qualquer Steinbroken. Mas que pode haver parecidos, pode haver...
Vejamos então quais e quando os verdadeiros finlandeses que passaram por Lisboa sem ficção:
A partir de Madrid | ||
Onni Talas | Delegado interino | Lisboa/Madrid 1920-1921 |
Yrjö Saastamoinen | Encarregado de Negócios a.i. | Lisboa/Madrid 1921-1923 |
Georg (G.A.) Gripenberg | Encarregado de Negócios a.i. | Lisboa/Madrid 1923-1929 |
Niilo Orasmaa | Encarregado de Negócios | Lisboa/Madrid 1929-1933 |
George Winckelmann | Encarregado de Negócios a.i. | Lisboa/Madrid 1933-1934 |
Encarregado de Negócios | 1934-1940 | |
Enviado | 1940-1945 | |
A partir de Haia | ||
Aarno Yrjö-Koskinen | Enviado | Lisboa/Haia 1951 |
Aarne Wuorimaa | Enviado | Lisboa/Haia 1951-1959 |
Helge von Knorring | Enviado | Lisboa/Haia 1959-1964 |
A partir de Berna | ||
Olavi Munkki | Enviado | Lisboa/Berna 1964-1965 |
Ragnar Smedslund | Embaixador | Lisboa/Berna 1965-1967 |
Björn-Olof Alholm | Embaixador | Lisboa/Berna 1968-1970 |
Martti Salomies | Embaixador | Lisboa/Berna 1970-1974 |
Kaarlo Mäkelä | Embaixador | Lisboa/Berna 1974-1976 |
Joel Toivola | Embaixador | Lisboa/Berna 1977-1979 |
Em Lisboa (residentes) | ||
Pekka J. Korvenheimo | Encarregado de Negócios a.i | Lisboa 1975-1978 |
Pentti Talvitie | Embaixador | Lisboa 1979-1984 |
Lars Lindeman | Embaixador | Lisboa 1984-1985 |
Pekka Malinen | Embaixador | Lisboa 1985-1988 |
Olli Auero | Embaixador | Lisboa 1988-1991 |
Dieter Vitzthum von Eckstädt | Embaixador | Lisboa 1991-1997 |
Matti Häkkänen | Embaixador | Lisboa 1997-2001 |
Esko Kiuru | Embaixador | Lisboa 2001-2005 |
Sauli Feodorow | Embaixador | Lisboa 2005-2009 |
Asko Numminen (atual) | Embaixador | 2009- |
6 comentários:
interessante investigação. Interessante tambem ver que a finlandia só teve embaixadores residentes a partir de 1975.
Antes, desde 1920, os representantes foram-se distanciando a pouco e pouco de lisboa, como que com medo deste pais do sul, e da espanha, como se já fossem paises doutro continente. De madrid (de nivel baixo) passam para haia, depois para berna! E por aí continuariam possivelmente.
Mas se eça fala do ministro da finlândia, seria porque então, nos 1880s, o pais teria legação em lisboa. Não seriam steinbrokens, claro, nome inventado para o personagem (nome pouco finlandês? mais parece de alemão ou sueco).
Talvez a embaixada possa tambem esclarecer se havia então, fins sec xix, legação em lisboa.
Porque teria eça escolhido a finlândia para pôr um diplomata em cena? Mas veio mesmo a propósito, termos onde ir buscar um steibroken, para os tempos que correm.
A Finlândia só se tornou um país independente em 1919. Antes era uma província da Rússia.
a) Alcipe
Província, talvez nem tanto assim. A Finlândia, após ter sido um domínio sueco, com a tomada do território pelas forças militares de Alexandre I transformou-se em 1809 num Grão-Ducado autónomo dentro do Império Russo. No epílogo de sangrenta guerra civil, a independência do país foi declarada em 6 de dezembro de 1917 e a independência do país foi reconhecida pelo Tratado de Brest-Litovski, firmado em 3 de março de 1918 e. a 9 de outubro desse ano, o senado finlandês escolheu o alemão Federico Carlos de Hesse como rei. Monarquia de pouca dura, pois em dezembro do mesmo ano a Finlândia elegeu Kaarlo Juho Ståhlberg como seu primeiro presidente.
porque falará então eça no ministro steinbroken da finlandia se este não era um país independente e portanto não teria legações no estrangeiro, no sec xix? Precisamente por isso, por não existir? Liberdade literária, para não melindrar um país real, pondo como personagem de romance um seu diplomata?
E a referencia aos reis fortes da finlandia?
Algo para investigar.
Oh Patrício Branco! A referência a rei da Finlândia foi uma deferência ao grão-duque que não mexia palha de política externa que estava nas mãos do czar. E quanto ao ministro da Finlândia em Lisboa, obviamente que toda a imaginação é premonitória...
Delicioso post e não menos deliciosos comentários.
Se o Eça nos estiver a ler, estará divertidissimo com o sururu da carta que o nosso Embaixador postou!
Como a reproduzi no meu blogue, dizem-me que o João da Ega é que anda muito preocupado porque não há meio de se lembrar da carta...
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