09 abril 2011

PONTO CRÍTICO 33 : Mais um intervalo

O próximo MNE
vai ter grande trabalho
e os secretários de Estado não podem ser gente verde,
para fazer currículo
ou condicionada por favores a grupos de pressão
sem endereço postal
    DESDE JUNHO DE 2003, início da caminhada de Notas Verbais, até aos dias de hoje, desfilaram pelo cadeirão das Necessidades, cinco ministros de três governos: Martins da Cruz e Teresa Gouveia (Durão Barroso), António Monteiro (Santana Lopes), Freitas do Amaral e Luís Amado (José Sócrates). Com a demissão do XVII Governo Constitucional e eleições marcadas para 5 de junho, passamos por mais um intervalo, sem que haja grandes certezas sobre se o próximo ministro é deste ou daquele partido – nas presentes circunstâncias ninguém pode dizer que são favas contadas. E, embora seja oração tradicionalmente rezada essa a da continuidade ou da inalterabilidade da política externa portuguesa, não é bem assim porque o mundo muda, mudando-se a reboque das forças predominantes do mundo e cuja simpatia ou empatia é indisfarçavelmente determinante para as decisões das Necessidades, por mais discretas que sejam ou fiquem submergidas na calda dos segredos de Estado. O presente intervalo, para além dos calores eleitorais, coincide com uma profunda crise nacional para cuja solução a ação e a atividade diplomática não vão ser coisas estranhas ou de mero recorte administrativo, coincidindo também com uma crise daquilo a que se tem chamado Europa comunitária e para a qual o Estado português tem vertido o melhor do seu esforço externo, grande parte do seu acervo soberano e, sem dúvida, um empenho sem limites para o qual se tem mobilizado a “máquina diplomática” que seria enorme e até mesmo desmedida caso a Europa fosse deveras comunitária, mas será pequena caso se coloque a questão da sobrevivência na selva das soberanias por onde, em nova fuga, a Europa mergulhou levada no dorso mítico do touro tresmalhado. Há pouco tempo ninguém acreditava nisso e só por milagre essa corrida irracional estancará, não dependendo tal circunstância de cada Estado e muito menos dos Estados mais frágeis e por isso mesmo mais crentes e ingénuos. Também por isso, quase iam sendo diabolizados os que viram logo que a construção jurídica do Tratado de Lisboa, passada a hora do champanhe, manteria os 27 unidos tal como os casais desavindos disfarçam a desunião – vivem sob o mesmo teto unidos apenas pelos problemas que têm em comum e pouco mais. O próximo titular das Necessidades, seja ele qual for, vai ter um grande trabalho e os seus colaboradores diretos, sobretudo os secretários de Estado da linha hierárquica (Negócios Estrangeiros/Cooperação e Assuntos Europeus) não podem ser delegados de propaganda médica – tem que ser gente de craveira negocial a quem se exija a formulação correta dos problemas e encontrar soluções. Não pode ser gente verde que assuma o cargo para efeitos curriculares pessoais. O país precisa de gente certa nesses exatos lugares. Não há tempo para experiências, nem condições para se fazer apostas e muito menos favores a grupos de pressão sem endereço postal. Quanto à "máquina", há tempo para dela aqui se falar.
    Carlos Albino

5 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns a Carlos Albino pela coragem de 8 anos em criticar uma elite de gente que não as aceita.
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Eu devo ser um dos poucos leitores de Notas Verbais que encadernei as peças dos anos 2003 e 2004 que me dão um certo gozo lê-las. Uma delícia!
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Desgosto, agora, da designação, de 3 senhores ministros e uma senhora ministra, porque nenhum fez “porrinha” em prol da nossa diplomacia e não deixaram história.
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Andaram por lá... Meteu-me dó o António Monteiro, no aeroporto do , Figo Maduro (2004) a mentir com quantos dentes tinha nos queixais, a perguntas de jornalistas de quando Lima Pimentel de “papo para o ar” e a curar, os excessos da quadra do Natal, em Lisboa e os portugueses vítimas do Tsunami, no sul da Tailândia, a ser visitados no hospitais de Banguecoque pela cozinheira, tailandesa, da missão.
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Martins da Cruz esqueci-o há muito. A D. Teresa não fez nada por que nada sabia do ofício. Luís Amado, sabia (e sabe) das capelinhas nas Necessidades e não usou a necessidade de apagar velas no altares e acender outras. O remoto control das Necessidades guiou-o para os lados errados. Próximo mês de Junho, os desejos de umas boas férias na praia de Porto de Mós.
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Para novo senhor Ministro dos Estrangeiros, assim, assim de momento não me ocorre à mente...mas como já o aventei há tempos aqui, num comentário, seria de sentar no cadeirão Tadeu Soares, “full rank” embaixador. Com Tadeu Soares, nas Necessidades, outro galo cantaria!
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Para Secretário de Estado dos Estrangeiros, desde já minha pessoa se oferece, para produzir melhor obra que o Braga. Tenho um 1,75 de altura e não seria necessário colocar-me na ponta dos pés nas recepções e noutros eventos oficiais dirigidos às comunidades portuguesas acolidas nos países estrangeiros.
José Martins

Rodolfo disse...

Por Falar na carreira não se fala em abrir concurso dado os seguintes factos: com as jubilações de pelo menos, 15 embaixadores na calha...e a criação do corpo diplomático europeu...não estará na altura de abrir 30 vagas! é que não se trata de alargar o número de diplomatas mas de manter o número dos mesmos. Dado que necessitam de 2 anos de formação antes, de assumir funções no exterior penso que estamos no limite?! Valia a pena alterar esta situação...

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Caro Senhor Rodolfo,

Qual criação de corpo diplomático europeu, qual carapuça!
Essa criação seria um chão de vinha que nunca daria uvas.
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Abrir um concurso de 30 vagas, vá lá que assim se aceita, mas nunca os 200 diplomatas, como afirmou Tadeu Soares numa entrevista, há uns dois anos, para preencher o “stock” de 600 nas Necessidades.
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A diplomacia portuguesa está cheia de vícios, arrogante e muitos, pela vaidade que ostentam, vergar a mola não é nada com eles.
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A diplomacia (me desculpem os profissionais), nova geração ocupa-se a dar uma “olhadela” aos recortes dos jornais e cozinham uma prosa que depois enviam para as Necessidades sem substância que valha.
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Pegar na pasta e sair para a rua vender o que Portugal produz nem sabem como e seria uma humilhação para espécie, humana, de tão rara finura...
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E para quando a abertura de uma faculdade de diplomacia, independente, onde fossem descobertas novas vocações para representar Portugal no estrangeiros e acabar com o “compadrio” e o nepotismo, arcaico e feudal das Necessidades?
José Martins
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Formado em diplomacia (não-certificado) de ter servido 6 embaixadores, vários números dois e, finalmente, observou: “fora da barra nada se avista”

Rodolfo disse...

No essencial até posso concordar o problema é que não se fala na abertura de novas vagas quando a situação se está a tornar insustentável, quanto ao serviço diplomático europeu já existe senão pesquise e verá que alguns diplomatas Portugueses estão acreditados em missões europeias em Brasilia, Washington.. Cumprimentos Rodolfo